Interna –
Billy night live – Noite.
Uma suave noite de trabalho no Billy night live com toques
de Quentin Tarantino.
Tudo
parecia se encaminhar como de costume. As luzes dos letreiros da Heineken e da
Eisenbahn já davam as tonalidades no ambiente lá dentro, com a iluminação do
hall à meia fase, para garantir o ar romântico. Por fora, o letreiro sobre o
umbral “Billy night live” junto com a placa luminosa na parede, indicando o
preço do couvert e o nome do músico da noite, já anunciavam mais uma noitada de
luz e festa, regida à drinks, guarnições requintadas e boas músicas. Nós já
havíamos trazido as mesas e cadeiras para calçada, os tambores para os fumantes
apoiarem os copos com os cinzeiros para bater as cinzas dos cigarros, o
projetor estava pronto para transmitir as imagens, a casa estava nos trinques,
um brinco de pérola caído de um ouvido etíope. Fomos jantar, revezando, para
não deixar o salão vazio e nisso chegou a caixa sempre muito elegante, vestindo
uma echarpe e um sobretudo coloridos por sobre a camiseta e a calça jeans, pés
bem calçados por uma bota. Cumprimentamos-nos “Boa noite, tudo bem Augusto?”, “Tudo
ótimo Cecília, melhor agora que jantei”, Então está bom.
O
Espírito da Verdade sopra o seu hálito sublime
Nos ouvidos
da dama para não deleitar-se no crime.
Mas
a impaciência tem o impávido ar sorrateiro
E demoníaco
a reluz no seu machado certeiro.
Estávamos
conversando na frente do bar e chegou o casal. A lateral estava por inteira
tomada para uma mesa de quarenta lugares com reserva de aniversário, bem em
frente ao local reservado ao músico. Não
havia como os demais clientes, além dos amigos e amigas do aniversariante,
verem ao músico. A mulher relutou que
tinha vindo só para ver o músico e que era um absurdo deixarem somente esse
deleite para a reserva. Meu colega foi chamar Cecília para resolver. O casal
ouviu tudo de novo pelas bocas de Cecí e ainda portavam-se inconformados,
aquele parecia para ela ser o último músico da Terra. Enfim fizeram por que
fizeram que conversaram com o aniversariante e se sentaram na mesa da reserva,
bem na ponta, bem na cara do músico. Eu
não podia levar o cardápio ainda porque Cecí estava reformulando os valores e
imprimindo os novos cardápios no escritório. Expliquei tudo isso a eles. A
senhora, como não podia deixar de ser, pediu-me a senha do wi-fi, eu disse que
ela poderia conseguir a conexão fazendo o check-in na página do Facebook ou se
cadastrando no wi-fi da praça, que é administrado pelo bar. Graças à Deus deu
conexão sem ela realizar o cadastro e pude ouvir “olha fulana tal e fulana tal
já curtiram a nossa foto”. É algo estranho, mais atualmente uma pessoa não se
sente completa divertindo-se se não for acompanhado de um “curtir” virtual. È um
tanto triste isso. Então chegou o cardápio, Lucas me entregou e eu entreguei
para o casal. Eles discutiram algo sobre os valores das coisas e não disseram
mais muito. Como eles estavam sentados na mesa do aniversariante, eu tinha que
por a pulseira de comanda no braço de um dos dois. Fui pegar a pulseira com
Cecí e retornando, pedi gentilmente que o Sr. me concedesse um dos punhos dele
para eu colocar a pulseira. Ele estranhou um pouco, mais deixou. Coloquei a
pulseira no pulso direito do senhor. Passaram-se uns dois minutos e a senhora
me chamou. “Você pode trocar a pulseira dele, está muito apertada”. Ok, eu fui
ao caixa falar com Cecília que estava realmente muito elegante.
Contanto
Cecí não deveria estar num bom dia. E foi como tudo aconteceu como eu vou
contar. Cecília, muito elegante, me passou o machado. Fazia tempo que nós não o
utilizávamos e estranhei um pouco, mas ela reluziu o rosto em elegância e
disse-me “Hoje é necessário, resolva” e acrescentou “Faça de um modo que não
fique muito desagradável aos demais clientes”. Então eu fui. O Sr. estranhou um
pouco eu chegar ao lado dele com a machadinha, mas como um cordeiro que se
encanta com a beleza sedutora do caçador, me concedeu o braço e o punho com a
pulseira, eu pedi com gentileza “Coloque-o sobre a mesa” e ele foi cortês e
atendeu o meu pedido. Então eu sobre ergui o machadinho à altura da minha
cabeça, e o desci sem pestanejar decepando a mão do cliente à altura do pulso.
Ele esganou de dor e o sangue espirrou na cara da senhora sua mulher e a mesma
saiu apavorada correndo do restaurante enquanto o marido esganiçava em dor na
minha frente. Dái, para não ficar mal aos demais clientes, eu sobre ergui mais
ainda a machadinha sobre a minha cabeça e acertei o centro do crânio de decrépito
homem. Então eu recolhi o cérebro na bandeja e joguei o corpo pesado do homem
na praça ao lado. Quando eu voltei com o cérebro passando pelo caixa, Cecí,
muito elegante, conferiu-me um “Bom trabalho”.
Levei
o cérebro para cozinha. Lector, o cozinheiro, que já havia sido avisado por
Cecí daquilo que viria a ser, já estava com a panela pronta e aquecida. Somente
acrescentou algum tempero e começou refogar os miúdos do cérebro ali na minha
frente. Meu colega de trabalho foi cortês “O primeiro pedaço é seu Augusto” eu
sinceramente agradeci a cortesia, contudo tive que recusar, estava meio
indigesto e não gostei muito da procedência da carne. Lector então me disse “Você
é cheio da frescura Augusto! Chama lá para mim o Lucas que é como um cabrito, come
tudo sem perguntar” Respondi pode deixar que o chamo. Fui cobrir o Lucas
enquanto ele jantava e continuamos as atividades da noite. Sempre confiem numa casa de onde venha boa
música, as comidas são de extraordinárias procedências, somente que, os desígnios
dos bons Espíritos nem sempre são ouvidos, ainda mais em noite de elegância e
pouca paciência. Voltem sempre.