sábado, 11 de setembro de 2021

Como sobrevivi 30 dias (pelado) na mata.

 


Mowgli, Jungle book Disney, Pinterest


CRONOGRAMA DE 30 DIAS NA MATA EM SURTO

PRELIMINARES

Existe um inimigo na minha mente.

Ele muda o ponto final da lógica.

As pessoas não são mais quem são.

Algumas estão mortas enquanto outras vivas.

É ele quem narra esta história em terceira pessoa.

O inimigo.

Voltei a ser criança.

Os filmes entraram na mente dele.

Confie.

Ele não confia.

Agora foge como uma luva com um furo nos dedos.

Bem-vindo. O surto abre as portas.


1. O FACÂO

Foi Fernanda Maschietto quem disse para ele que a harmonização seria na área do facão.

Harmonização é um nome engraçado para o projeto.

Foi a deixa para que entrasse na mente dele.

Saí descalço vestindo uma bermuda e uma camiseta.

A bermuda sinto falta de ter escondido no cano de esgoto.

Fugi pelado na Mata Atlântica.

Eu queria chegar na praia em Peruíbe.

As pessoas que me resgataram vinte e tantos dias depois usavam também o facão.

Foi tudo devido à sopa de palmito.

Antes no Terra Luminous pensávamos que seria envenenado com o filé mignon com gorgonzola.

Quando Tom Maia me levou conhecer a Oca indígena e a jararaca

Como Moisés fazia as magias, não me pegou pelos pés

Fiz ele pensar que seria esquartejado.

Se não o pegou pelos pés o pego pelos braços.

Você sabe o que é o grito de gol na cela?

A lógica foi para o espaço.

Agora ele pensa que o bispo Edir Macedo quer a cabeça dele.

Palmeira-juçara é o caralho.

Olho o cruzeiro do sul no céu e me guio.

Os rios deságuam no mar.


2. O GRITO DE GOL

Teve um jogo aquela noite.

A tenda de cortadores de palmito estava iluminada por lanternas LED.

Não precisava mais fugir da chuva.

Tinha fogueira.

Não me deram soro, trouxeram cobras.

Eu gritei gol.

Tomei um chute e agradeci. Deus abençoe.

Para eles meu nome era Matheus de Souza.

Foi quando me acharam quase inconsciente na mata.

Depois revelei meu nome Augusto num brilho da noite.

Trouxeram um saco de cobras.

Ele não fica quieto.

Não conseguimos dormir.

Tem pizza no forno.

E o pão com pingado que papai Dijalma costumava comer

É somente pegarem.

Palmeira-juçara não tem mundial.

Vão se foder.

Tira esta tatuagem ridícula do timão do peito.

Um pai não foi feito para bater no seu filho.

Chupa o pauzinho loiro do Bozomínium.


3. O FRIO DA NOITE

Mandaram o exército atrás de mim.

João, Carlos, Gui, Alex, Samir, Elói e Gustavo

Chamaram o meu nome em vão.

Subiram o rio.

Para mim, estavam me perseguindo.

Vi luzes de naves.

Um helicóptero.

Eu me cobria de barro.

A floresta me protegia.

Vi animais. Bicho preguiça e antas.

Havia o alívio da Corrente de Maria, que passava às 18:00 e às 6:00.

Também tinham periquitos e cobras.

Vi as sondas alienígenas.

Elas sondavam a mim, pareciam mosquitos.

Piiiiiiiiii piiiiii

Eu me cobria de mato.

De noite haviam os soldados do freefire.

Por todos os lados.


4. DO QUE ME ALIMENTAVA.

Frutas nas armadilhas de índio.

Os índios eram meus amigos.

Comi também raiz.

Certa tarde chegara até mim dois urubus.

Comi um fungo e as aves acreditavam que eu ainda vivia.

Foram embora.

Estava muito fraco e magro.

As sondas me vigiavam. Piiiiii Piiii


5. ASCENDE ESTA VELA NO CÉU DESTA CELA

As velas.

Ah a cor delas.

Quem tem fogo tem vida.

Ascende esta vela no céu desta cela.

Vocês pedem a mim que trago na nave quem vocês quiserem

Só descobrir esta lona.

Ascende a vela no céu dessa cela.

Eles te ameaçam se não ficar quieto

Ele queima o dedo ascendendo o cigarro.


6. ÍNDIOS

Que vejo flores em você

Seguia as flores na floresta.

Elas eram lindas, às vezes roxas, às vezes amarelas.

Queria encontrar os índios e viver isolado

Comer peixe grelhado, com suco e frutas.

Eles iriam ungir as tuas feridas.

Da igreja Universal do Reino de Deus

Imagine um exército da igreja Universal atrás de você.

Ele tem que ir longe.


7. QUEM SEGUE O BRAU NUNCA SE DEU MAU

Você já pegou cela, Matheus?

Fumar um paieiro de manhã e a tarde.

Acho que fui violentado.

Estive na mesma cela que o Brau.

Ele me ensinou a ver o sol do Havaí do pavilhão 9.

Com as pernas e joelhos de fora.

Lá no Carandiru.

Eu fugi de Alcatraz.

Mergulhei. Caí de baixo de uma cachoeira e fiquei duas horas inconsciente.

Quem segue o Brau nunca se deu mal.

Você se lembra da Mara, Che?

Eu fiz ela gozar pelas costas.

Tá, mas para de falar a noite toda!


8. CATIVEIRO

Quando consegui levantar e entrar na casa

Porque estava com os pés muito machucados

Vi produtos de limpeza de boas marcas

Pasta base de cocaína.

Comer um pote inteiro de açúcar

Me levaram uma panela com arroz, feijão, linguiça e um suco de acerolas com peras frescas.

Destruí a engenhoca de chuveiro.

Destruí o fogão a lenha.


9. JIPE

Não lembro como me colocaram no jipe

Indo para ambulância lembro do estranhamento

Ver minha mãe e o meu irmão

O Sorriso da minha mãe Sônia.

O sorriso tímido do João.

Pedir chocolate

Coxinha no Lago Azul.

Dr Nilton Lobo veio me ver

Fizemos um acordo diplomático

Fiz uma consulta com o Dr. Rodrigo Borghi

Não me lembro.


10. ACORDAR NO HOSPITAL

Havia duas colchas

Uma do hospital das clínicas USP a outra do Seara.

Eu estava amarrado.

Foi com sair do coma.

Mc Beddi me ensinando o vocabulário,

Talarico, quem sai com a mulher de outro

Pé de bréque, quem só atrasa

Ramelão, quem só faz besteira

Codigo PCC, Paz justiça igualdade e liberdade.

São Matheus bolou um Arapiraca com cigarro.

Fumamos. No Seara a fumaça passa o tempo e cigarro vale ouro.

Cheguei a tomar dez banhos num dia.

O bispo quer a cabeça de todo mundo!

Acho que tomei o chá do Daime.


Dr. Rodrigo Borghi pede para avisar que eu havia parado por livre escolha de tomar o lítio.

Ele sugeriu para eu escrever o Mogli.

Sou grato que Deus protege ao Pedro sobrinho como protege ao surtado.

A lógica foi para o espaço, mas Deus nunca faltou.

A palmeira juçara não tem mundial.


Robinson Crusoé, Britannica Escola