terça-feira, 8 de dezembro de 2015

lua de mel



O conhecimento liberta, contudo não separa da Realidade. A loucura separa, entretanto não liberta. A imaginação liberta e separa! A imaginação é um perigo e uma vantagem!
Sartre, Jean-Paul (1905-1980).

Na experiência estética, a imaginação manifesta ainda, o acordo entre a natureza e o sujeito, numa espécie de comunhão cuja via de acesso é o sentimento. O sentimento acolhe o objeto, reunindo as possibilidades do eu numa imagem singular. É toda nossa personalidade que está em jogo, e o sentimento despertado não é o sentimento de uma obra, mas de um mundo que se descortina em toda sua profundidade, no momento em que extraímos o objeto do seu contexto natural e o ligamos a um horizonte interior. Esse sentimento, portanto, “não é emoção, é conhecimento”.
Dufrenne, Mikel (1910-1985).

Um sensitivo é um embaixador de Deus na Terra. Contudo, nem todos são elevados para merecerem o nosso crédito. “Existirão muitos profetas, mas em nem todos deves confiar!”. O sensitivo sente o que a imaginação intui. Esse é o nosso futuro e essa é a próxima Seleção Natural da espécie humana.
Algum palestrante num Centro Religioso.


Kaká ontem entrou em algum buraco de minhoca em seu sonho. Disse que já havia armado a rede de pesca. Felipe o atacou fingindo fosse um zumbi, na tentativa que o menino acordasse e partisse para o quarto dele, na outra casa. Eu estava rindo na cama ao lado. Seria essa a felicidade? A tal felicidade que a amiga Izildinha me falou? Apegar-me as tais coisas simples? As brincadeiras lúdicas, as dimensões dos sonhos, ao ter os irmãos tão próximos? Não é o suficiente, não é! Está numa canção que aprendi francês na voz de Carla Bruni! É uma expressão francesa e não vou buscar agora pesquisar para traduzi-la. Mas a nossa cabeça manca de nós! Talvez não seja a melhor das referências, mas as referências valem a pena e são realmente aprendidas quando mexem com o nosso sentimento, e naquele momento foi o necessário para que eu entendesse em tão bela língua.
Eu penso em como você está distante, penso em como queria entrar nesse buraco negro e ti ver do outro lado da sala e todo o resto do mundo desaparecesse para que a gente pudesse conversar e acertar os nossos ponteiros. Não vai acontecer nessa Terra, meu amor? Nesse corpo, nessa consciência, para que eu escorregue de novo a mão em seu rosto e lhe de um beijo na face? Onde as frases se completavam como se não fosse a gente dizendo? Em que espaço a gente estava naquele momento? Como aquilo foi possível? Como aquela semana existiu na Terra?
Eu penso agora em você desenhando a freira com a foice na mão, a expressão do que você me contou naquele telefonema fora de hora de como foram os seus anos morando no convento em São Paulo. Contou também das disputas que estavam acontecendo no grupo da internet e eu nem tava ligando para aquilo que pareciam as rodas e cartas da infância, mas agora numa rede mais ampla e numa idade de maior competitividade. Penso que você estaria com medo que eu me interessasse por aquilo e não prestasse a devida atenção no seu diálogo. Eu estava era muito doido naquela época e escrevendo, escrevendo muito. Mas eu ouvi cada detalhe da sua fala e aquilo mexeu comigo.
Eu já disse antes: ninguém pode ter essa empatia com alguém que não dividiu a infância primeva. Tudo está de certa forma ligado. As pessoas é que ainda não estão “ligadas” disso.
Então pergunto ao meu anjo guardião: Vocês gravaram tudo aquilo em outro planeta? Porque eu terei que ver de novo! É a minha única suplica, porque não devo vê-la mais nesse Tempo e nesse estado de coisas. Então aquela foi a forma perfeita da nossa Obra, e eu a quero para mim! Eu a quero gravar, crivar na Estrela de Luz!
Aquilo acabou e nós não somos os únicos nessa Terra. Eu mereço mais que essa lembrança. A outro alguém por ai e lerá o que eu estou escrevendo. E eu estou limpo de nós para recebê-la! Leia, entenda e venha!
Eu estou cansado. Eu não sinto Cristo porque você não está do meu lado. Todos não entendem e parecem todos serem os nossos inimigos. Eu os quero todos fora dessa nossa vida por um tempo, e a nossa lua de mel será por um século pelo que eu tenho feito por eles que não me amam. Ou me amam errado, me amam de forma egoísta e essa merda já me prejudicou por mais que eu mereça aguentar! Fora isso, eu sou o meu maior inimigo! Eu não consigo conter o meu sentimento dentro do meu corpo, eu me confundo e deixo você escapar.
Se eu tenho conhecimento disso, é porque eu sei que isso vai acontecer! E não terá ninguém olhando! Não terá ninguém nublando o nosso sentimento! Até lá, carregarei essa coroa de espinhos porque eu vislumbro onde é o fim dela, e é feliz! Eu somente agradeceria muito se fosse nesse estado em que estou hoje.
Por favor me encontre. Tenho dinheiro para duas passagens para Suíça. Um pouco para o começo. Não dá para ir para outra dimensão, mas dá para sumir do meio dessa dor e confusão. Dá para ser feliz!
Você conhece o meu nome, eu não conheço o seu, mas nós podemos nos entender. Você me entende?
8 de dezembro de 2015.

sábado, 5 de dezembro de 2015

CARTA AO PADRE



CARTA AO PADRE

This song was made to be written in English. Please, anyone in the future with Dylan`s capacity translate it into poem. Thank You.


Deixe-me lhe contar uma história de Amor, Padre
Essa batalha aconteceu na esquina da Dom Bosco com a Angélicas
Numa cidadezinha arcaica e ambígua chamada Americana. Deus sabe o que faz e as coisas nesses lugares ínfimos serão diferentes daqui para frente.
Eu disse batalha porque essa guerra é mais antiga do que vossa senhoria possa conceber.
Eu e o meu irmão julgamos um crime no Paraíso. Acho que o veredicto não agradou nem ao inocente e nem ao réu.
Contanto eu disse que era uma história de Amor, e o será.
Eu vim de longe buscá-la. Ela representa uma falange (porque nós nesse estágio somos uma falange e não um único ser com caráter próprio) e eu a chamarei Magdala.
A minha falange é a dos Artistas e dos Pensadores.
Mas o que nos resume é o Amor. Magdala vem sofrendo um preconceito cruel e estúpido desde a época de Cristo e eu vim buscá-la. Nós vamos sair dessa Terra juntos, vocês querendo ou não.
Ela é infinitamente Amor maior que eu sou, milhões e milhões de vezes maior porque suportou muito mais violência e nunca os odiou por isso, portanto é difícil trazê-la para perto para que eu possa senti-la.
E quando trago-a para perto o efeito é catastrófico porque o meu corpo tende a não suportar. É um grau de consciência como o do professor Charles Xavier do X-Men. Entretanto, como a personagem do romance gráfico, eu encontrei uma vacina para controlar essa consciência suprema. Ela se chama Saphris 5 miligramas.
Eu ainda não consigo compreender isso tudo, contanto eu fiz uma proposta: vocês a deixam livre, acabando com o sofrimento dela nesse corpo atual, e eu me distancio e paro de vos ferir com o nosso Amor.
Existe certa intuição que esse casamento acontece na França. O evento vai estar em outro grau de vibração, todos que nos causaram mal são convidados, mas poucos o verão. E claro, como posologia, estou tomando o Saphris 5 miligramas nesse exato momento porque eu sei o que me causa quando balanço o Universo divulgando esse tipo de texto.
Eu sei o que é real. Meus irmãozinhos, um pescando e o outro no whatsapp, são reais. Eu entrar num rio gelado para extrair areia e vender por trinta conto o metro são reais. Eu ter feito inúmeros trabalhos irrelevantes na vida me coloca no grau de saber muito bem o que é real. Entretanto, meus queridos, não sei se isso vai vos fazer bem ou mal: a realidade que vocês conhecem chega a ser uma ofensa e espúria ao que existe ai fora.
Está bem assim Padre. O Sr. Pode por gentileza lê-lo na Cerimônia.
Hora de tomar a dose, não porque eu precise, mas porque a consciência mana escapa do meu corpo e antes de eu terminar a minha Missão, não posso ser considerado incapaz de viver nessa sociedade de homo sapiens, chega a beirar a ironia esse tal sapiens. Engolindo o comprimido. Podem vir!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

afeto



“Um afeto jamais é vencido por uma ideia, mas um afeto forte é capaz de destruir um afeto fraco”.
Baruch Espinosa (1632-1677)

O idêntico caminho não causa o mesmo reflexo quando percorrido por um artista, um advogado, ou um investidor. Essas mesmas pessoas quando passarem lá com dez anos de idade, com vinte, quarenta, sucessivamente na escala de tempo que lhe for determinada nessa vida, terão impressões diferentes das que tiveram anteriormente. Também não é o mesmo caminho se passamos por ele com fome, frio ou ansioso. Não há muito de novo nisso que estou dizendo e é até lógico e também não é autentico de mim vindo dos teóricos da psicologia da forma Gestalt que tiveram influência na fenomenologia.
Entretanto, o ser humano é dotado de perceber um troço no que chamarei de Beleza. Na história que a humanidade contou, a única pessoa que foi dotada de transmitir essa Beleza transformadora por contato com outros que não eram somente os seus entes de sangue foi o próprio Cristo. É meio improvável que Ele venha dar um passeio aqui na Terra por esses dias e nos ensine por esse contato, mesmo porque nós iríamos matá-lo de novo. Sendo assim, é ponderável que comecemos retornar a isso pelas coisas que estão a nossa capacidade.
Retornemos então a tal Beleza.
As pessoas, descartando os nossos contatos com os entes de sangue, as pessoas capazes de doar um pouco desse contato afetivo que não chega perto da transformação de quem conheceu o Cristo vivo, essas pessoas são os Pensadores Ativos. Eu digo ativos porque eles produziram Arte e Filosofia contextualizada na sua época e no conhecimento adquirido nos “coleguinhas” que vieram antes deles, mostraram isso aos seus, e deixaram isso em obra.
Se Deus me permitir, tentarei no texto abaixo, vestir a insígnia da dignidade de portar o peso da Arte e da Filosofia. E se eu for bem sucedido, irei fazê-los sentir o que é esse peso e, como quando a civilização usava o peso para medir o valor de uma moeda, vocês vão compreender quem tem a autenticidade de vestir essa insígnia.
Graças a Deus eu os trouxe para perto de novo e, enquanto essa energia prosperar, saberei que sou digno de Vossa presença. Sintam um pouco desse afeto na mesma medida que eles me fazem sentir. Não é o único afeto que vocês vão cruzar pelo caminho, nem mesmo deve ser o mais autentico em sua vida, entretanto dediquei a minha autenticidade, no risco que advém disso, para doá-los a vós com o mais misericordioso altruísmo e amor que conheço. Eu julgo que quem carrega essa insígnia tem o poder de transformar. E é para isso que estamos vivendo, nessa época, no nosso contato. Estamos aqui para nos transformar em algo melhor e Bom.
Portanto se entreguem abaixo a essa viagem e a esse caminho que criaremos juntos. Preciso da parte de vocês para que funcione. Façam isso quantas vezes forem necessárias e em quantas etapas de vossas vidas for necessário. A Beleza é assim mágica, entretanto ela não o faz sozinha. É necessário disciplina e dedicação para portá-la.
Fiquem abaixo com o meu afeto. Que assim seja!

CÉU.

Tu és honrado de esquecer.
Foi o que adveio quando nasceste e eras página em branco.
No momento, cadenciado escute-me, há sentimento carregado em minha voz. Na letra dos volumes revolvidos sobre as mobílias do teu aposento, redunda tal infecunda impressão, espairece a prudência de você em mim! Na mesma intensidade que o som das gotas da chuva ressoando no beiral das vidraças o faz! Esqueça-os! O símbolo letra logo denotará poder! A Natureza é a voz de Deus aliciando a nossa energia! Desligue impostergavelmente o celular!  Aceite como único sentido nessa sala o som da minha voz! A lógica vai se explodir no meu colo! E estamos unidos, entregando-nos num sono profundo e maravilhoso! Vagarosamente estou encostando as pontas dos meus dedos na fronte de tua testa. Sinta a energia fluir por meus dedos e adormeça! Ouça a música erudita que começa agora!
Quando estiveres acolhido, diga-me o pretexto de tanto cansaço, tanto peso nos ombros.
No instante, só escute-me e sinta-me inteira convosco. O elemento integral dos polos: veja como eu sou cheiro, gosto e calor! Como o nosso sentimento é complexo e belo e permanece no todo de nosso ser! Vós sois, como tu és, como eu sou, da mesma energia!
A tristeza jaz em teu redor. Coube a mim jamais permitir a ti fundires com matéria de menor pureza! Tu não foste ornado na mesma matéria do mal!
És bom! Não dá para ocasionar até tua consciência qualquer sentimento de perdão, por si mesmo e pelo outro! Mas tu és importante para mim e és a bondade em essência! Deixe-me anelar um pouco de ti: o teu silêncio me diz!
Percebo que existia a disfunção hormonal em ti o que limitou o estimulo de prazer na tua puberdade. Assim, retirado da sensação de reflexo nas partes que formariam a tua personalidade harmônica, pelo prazer, pelo contato, fechaste em si mesmo a retidão da vossa expressão, incompleto e torturado em angustia e sofrimento. A devida experiência e inevitável perda deveriam formar-te como um todo! Vosso infindável amor se tornou ódio! Deus, por que permitiste? Por que deixaste sentir tamanho sofrimento?
Deixaste-me ir até ele antes que chegaste nisso? Não, Deus! Não deixaste! Acredito que Vossas Excelências sadicamente usam algumas personalidades para manter a estrutura que planejam para o Universo! Ao sacrifício de dilacerar a alma de um homem bom! Sois vós justos?
Percebo a tua consternação, meu amor! Eu sei que tu ainda estás ai! Além disso, como idealista humanitário em sentimento e inteligência, era lógico que tu irias ser condicionado pela dor e pela raiva, quando foi tirado de ti o que os comportamentalistas chamam de reforço positivo!
Os estímulos acessíveis não poderiam substituir a falta primeva! Foi interiorizado em ti um sentimento de culpa moral! Culpa que refreou em ti recorrer ao não sagrado, aos prazeres efêmeros, como paliativo da tensão. Como tu não recebeste educação de cristãos, há de se considerar o inconsciente freudiano na infância primeva de relevância para que tu ti reintegres! Tu deves perdoar vossos genitores!
Entretanto, ainda naquilo que os comportamentalistas chamam de reforço, lhe foi sugerido um paliativo que culminou construindo o teu progresso, que interessou o teu ser na totalidade! Ti confiaste de corpo às Ciências Humanas, as Positivistas e Naturais e também às Ciências Idealistas e Espiritualistas!
Estranho, contudo dotado de estrondosos potenciais adquiridos, noto tu não haveres lavrado nenhum trabalho intelectual! Nenhum que fosse de relevância entre os seus! Deus! Eu entendo! Vós, novamente em vossa redoma egoística! Mantiveram-no desacreditado de si mesmo! Fizeram desde a concepção para que pudessem usá-lo ao deleite como apoio para as vossas próprias descobertas! Malditos sois!
Querido, não foste pretensioso de tomar partido: porque sabias da complexidade do ser humano e achavas verdade onde houvesse verdade, independente do rótulo! Quiseste ajudar! Foi-lhe sugerido o mundo das ideias! E você se atarraxou nisso e criou! Você se impediu de existir para criar!
 Tu és um artista, meu amor. Um artista!
Que para distinguir verdadeiramente as classes onde o discurso do saber é inatingível, e porque tu ti negavas a ti mesmo o tempo todo, por não sentir-te completo e digno do saber, pela inferioridade de ti não ter provado afeto bom, tu ti atiraste em inúmeros trabalhos de menor relevância onde nunca ti adequaste! Deus, que tamanho sofrimento!
Agora descanse.
Tu tens que sentir o meu amor fluir até o teu ser! Há tanto afeto no que tu crias! Agora antevejo pelos vossos olhos! E ainda assim, ninguém pudera supor que ali permanecia a mensagem que eu precisava para ti encontrar, entre tantos! Contudo, agora tu precisas sentir um pouco disso em retorno. Confie! O amor que tu expressaste foi pura caridade! O Mestre não cobra a caridade e nem espera ser compreendido por ela!
Portanto, com a idêntica sentença que eu iniciei a minha fala, tu és honrado de esquecer! Esqueça-os!
Nada que eu faça irá trazer até a tua consciência o perdão! Quiçá, pudesse o reflexo de um afeto tão misericordioso, entregue e despretensioso, como foi a vossa Arte, refletir até ti pela vontade de um deles!
Entretanto, por favor, devotada em atitude compassiva, aqui apresento-me a ti, entregando-me aos vossos sentidos, deixe-me fazer-te chegar o meu afeto!
Cadenciadamente, oculto para ti a minha voz! Sinta-me por meus gestos e atitudes, eu te guio e tu vais se acostumando ao contato, condicionando a exteriorizar o teu afeto em relação a mim!  Destarte, aos poucos tu vais aprender o meu tempo como eu vou aprender o teu! Porquanto a nossa energia tem a mesma matéria, tu irás ti fundindo a mim, e em contrapartida, eu farei o mesmo na maior intensidade que eu conseguir em ti! Vamos confiar de modo tão frequente que condicionalmente toda energia ruim que lhe foi canalizada em afetos fracos será superada! Além mais, tu criarás com maior vigor! Atitude e confiança geram obras por demais belas, ainda mais preciosas ao que tu expressaste até hoje, eu me dou como prova! Pois igualmente ocultei-me em remorsos ao lhe ver, e foi ti quem me adormeceu e acordou! Nós vamos sempre nos encontrar e nos lembrar de quem somos: somos afeto do mesmo afeto, e nenhum mal pode superar tamanho bem por tanto tempo! Caem-se as cortinas e o tempo é a derrota dos fracos, dos ainda ignorantes, e nós os resumimos e os deixamos ao mal! E o mal está fora da redoma de quem é bom! Você acordou! Eu calo-me ao teu toque! Que assim seja!


PURGATÓRIO.

França, 24 de novembro de 2015. Terça-feira. Temperatura 7 graus Celsius.
INSERM. 101, rue de Tolbiac -75654 Paris Cedex 13.


- Meu Deus! Sinto-me culpada por estar debaixo das cobertas! É terça-feira e são quase nove da manhã! Devo começar perceber que a sua presença é um transtorno em nossas vidas, uh-la-la!
- Considerando que você me convidou para entrar em noite alta, sem esforço de impedimento, mandando-me consertar a entrada do gás do aquecedor e ainda trazer a sua mobília, devo considerar como elogio o distúrbio causado até agora?
- Não, você é só um fato a mais para ser corrigido pelo Liceu francês!  Depois poderá ficar nessa casa! Aliás, o seu pai me escreveu outro e-mail. Disse-me que não consegue falar com você! Como vai o tio Arthur?
- Ótimo. Sempre bajulado pelos colegas acadêmicos e pelas alunas moças! Deve estar tomando o uísque reservado aos eméritos nesse momento!
- Papai nos ensinou a chamar o seu pai assim “tio”, desde tal eu não me esqueço dele! Sisudo e alegre! Nossos vizinhos do Brasil, era como nos referíamos lá em casa a vocês! Papai e seu pai podiam passar horas conversando sobre a arte de lecionar na Sorbonne, intermináveis discursos sobre política, e nós crianças só queríamos correr pela casa toda, bem a moda da euforia quente de vocês! Mamãe enlouquecia e fazia grandes discursos na volta para casa dizendo-nos que aquilo não era comportamento de visita. Nós fingíamos entender, e quando íamos lá, começávamos tudo de novo!
- Você sabe que seu pai praticamente salvou a vida de meu pai, não sabe? Papai seria preso pelos militares se seu pai não arrumasse aquela bolsa de estudos para ele aqui na França. Deus sabe o que seria de nós todos! Nessa época eu tinha o que, uns oito, nove anos? Você era dois, três anos mais velha. Lembro-me que uma vez meu pai castigou a mim e aos meus irmãos por essas estrapolações lá em casa: levou-nos no Museu Rodin, em pleno verão de Paris, enquanto os filhos dos outros professores estavam se divertindo nos jardins da Sorbonne, e fez a gente ficar sentado por minutos intermináveis observando a pintura O Pensador do norueguês Munch. E a gente pedindo, implorando para ele nos livrar daquilo e nos levar no cinema. Papai era severo do jeito dele, nunca encostou a mão em nós, mas impunha essas “tarefas educadoras”. Fomos ao cinema somente um mês depois, depois de ter lido e escrito um resumo em língua francesa do livro A morte de Ivan Illich de Tolstoi.
- Sinto o cheiro de café. Quando a gente desperta e se levanta é como se estivéssemos saindo de uma catacumba, renascendo de um mundo para outro, deixando a morte para trás, não é?
- Fazemos isso o tempo todo. Estar aqui com você é morrer em diversos outros lugares! É a dicotomia felicidade-tristeza! Vou ligar o áudio de uma música, que será, será a trilha sonora de Jazz dos filmes de Woody Allen, ti agrada?
- Se você não tivesse nascido, teriam que ti inventar! Ou deveria eu esperar que você saísse da tela de um filme? Remete-me ao tempo que moramos em Nova Iorque! Quando o papai foi chamado para lecionar um semestre lá! Uh-la-la. Nada como ter um vestido prêt-à-porter às mãos! Agora sente-se e comece dominar o mundo, mulher!
- Non, já vai você para o notebook! Forma-se aquela bolha em ti e nada mais existe! Melhor eu sair beber algo, discutir com os demais chatos no Campus!
- Preciso entregar um sistema meio complexo!
- Como você entende essa lógica de símbolos? Horrível!
- Agradeça: por trás de tudo que você vê e usa bonitinho na tela dos dispositivos, pois é, são essas equações matemáticas horríveis!
- Talvez exista razão nisso que você diz de “dominar o mundo, garota”! Os T.I. detém a pedra filosofal da vez! Dominam uma escrita seca de símbolos lógicos, e doam a nova linguagem para as pessoas se expressarem. Vocês criam os poetas da nova vanguarda! Contudo, nem a internet, com suas redes sociais, interligando ideias e expressões de sentimentos globais dos seus usuários, pode mudar a consequência na formação humana do afeto gerado do contato real. Está na fala de Espinosa que eu lhe mostrei ontem. Tipo como a gente ter crescido um tempo junto na infância, para que a gente sentisse essa plenitude agora, o fato de nossos pais se conhecerem e a gente se conhecer, e depois, nos conhecermos de novo. A simbologia da internet aposta nas coincidências puras e casuais de gostos, quando na verdade não existem coincidências nessa coisa de sangue mesmo, de pessoas carne e osso!
- Nós somos a ponte, não o milagre!
- Interessante essa sessão de Espiritismo na sua Biblioteca!
- Uma tia distante deu ao meu pai que me deu e fui juntando mais e mais livros sobre. Comece pelo Livro dos Espíritos!
- Não sei não se me interessa a filosofia dos mortos.
- Allan Kardek foi um pesquisador francês, então é relevante!
- Chico Xavier psicografou uma carta de meu avo para minha mãe, um médium brasileiro, então é relevante, minha cara!
- Sim, Sim. Veja, os Indianos são gênios quando deixam de fazer essas comidas nojentas! Um deles acabou de me passar aqui uma parte muito necessária no sistema que estamos desenvolvendo. Uh-la-la. O problema é que eles são tarados por mim. Não posso dar muita liberdade. Eles são a sensualidade descrita, deve ser essa coisa mantra espiritual reverso! Meu Deus!
- Não é tarefa fácil manter-se no mantra com uma mulher bonita à vista. Entretanto, não dá para fazer casamentos arranjados com vocês francesas! Sendo assim, temos como arma nos fazer notar pela capacidade no trabalho!
- O diabrete do meu irmão está viajando o mundo fazendo Work Exchange! Olha essa foto dele tratando dos bichos numa fazenda na Austrália! Antes estava cuidando de não sei bem o que numa empresa orgânica na Islândia.  Agora está se preparando para ir para a África do Sul. O diabo não está muito interessado em pensar em salário e benefícios!  
- Sabe, um tio nosso sempre alugava um apartamento de um mecânico no litoral norte da costa brasileira, para passarmos o ano novo. Era uma fortuna! Os peões da indústria têm montes de carros e chácaras para alugar no Brasil! Fora os casos extraconjugais que rolam entre os departamentos nas empresas! E virou rixa pessoal processar os patrões na justiça depois que a farra cessa, porque um dos lados se viu lesado no seu particular. É a contrapartida do proletário! Realmente há uma ordem reversa, mas não consigo enxergar aqui domínio, a não ser da classe por ela mesma! As pessoas trabalham porque querem coisas e querem transar! Mais que isso, elas trabalham porque não produzir, ficar parado nos joga em contato com o sentimento da morte! Se o ato sexual em si é voltado ao corpo e é incompleto, eles irão descobrir isso na sua não saciedade, não em Marcuse e Foucault. Marx não precisava produzir um carro para se sentir satisfeito, o próprio pensamento dele era a satisfação necessária em si! Na redoma do cidadão médio e comum, ele tem que trabalhar para não sentir a morte batendo nas costas! Quem mantém a ordem também tem que trabalhar, mesmo podendo parar pelo patrimônio adquirido, tipo quem está no alto comando das empresas e também trabalha e passa pelo mesmo processo de introspecção da força sexual como o seu operário passa! Essas pessoas que estão no comando ainda não desenvolveram senso de distribuição de renda! Só isso! O senso coletivo foi para o espaço ou cresce escondido no under-ground! E dessa cartola que se autodenomina na Economia e na Arte de “independente”, disso não sai coelho não! Porque a Arte e a Economia dependem do outro! Do consenso do que está acontecendo no Mundo! É um total de fatores! Dessa cartola independente e conceitual não sai coelho, não!
- Essa expressão não existe em francês, meu caro! Mas adoro ouvi-la pela primeira vez! Você não deveria tentar entender o seu povo através dessas teorias de europeus. Ou deve tentar entender, mas deve formar a sua própria, na sua própria cultura e me parece, para o seu bem, estar seguindo nesse caminho! Por exemplo, vocês tem uma corrupção arraigada em sua natureza que daria um ótimo trabalho de Psicologia! Seria mais autêntico para ti discursar sobre os seus!
- Minha cara, lá no Brasa, os que não são apadrinhados no Governo, dizem odiar os governantes, contudo, altos ou baixos, a maioria os mantém lá pelo voto democrático e convive-se os quatro anos do mandato com essa dualidade punitiva! Reflexo da autopiedade hipócrita, do sadismo narcisista! Há uma satisfação incompleta em mandar a presidente se foder! Enquanto o roubo não bate a nossa porta, enquanto um pivete de verdade portando um fuzil não nos atinge um tiro, quem sabe daí você entenderá o terror da corrupção naquele País!

(E então, como num choque repentino, bateu a porta desse apartamento em Paris o terror).

- Meu Deus! Meu Deus!
-Vamos sair daqui! Não estou te vendo pela poeira!
- Cacete, foi uma bomba?
- Fique abaixada, estão atirando! Rajadas de metralhadoras! Meu Deus!
- Eu quero que esses malditos terroristas saiam do meu país! Quero que eles cuidem dos problemas deles fora daqui! Voltem para o inferno! Fora da França, maldito extremista! Ou nós, com a América, vamos meter uma bomba atômica na vossa raça! Nós permitimos a essas pessoas nascer na Europa! E eles não condicionaram novos hábitos! Veja o que nos dão em troca! Então que sumam, meu Deus!
- Eles estão sofrendo! Não se condiciona alguém com mais sofrimento! Lá fora está seguro! Vem, meu amor, vamos sair do Campus!
-Eles estão sofrendo? Todos nós estamos sofrendo! Mas ao menos os mulçumanos que nasceram na Europa nos dias atuais tiveram contato com formas de expressão de sofrimento menos danosas! Maldito terror! Maldita ignorância! Malditos todos!
- Vem meu amor, vamos sair! ...sofrendo, sofrendo muito!...


INFERNO.

Agora seu pai é uma AK-47!
Você ama o sei pai?
O seu pai é Deus e ele qué que você mate os infiéis!
Você ama Deus?
 Tira a sua roupa!
Se fugi, cortamo sua mão e pés!



(.)

Num Mundo onde não há o discernimento advindo do Saber para gerar a Tolerância, os filhos do verdadeiro Amor não sentem o “toque” do Mestre, e o homem é o mal do próprio homem! Os filhos do Amor retornam para os seus Mundos e os filhos desse planeta Terra não chegam a supor o que seja a Caridade Misericordiosa advinda do toque deixado por Eles. Mas Eles retornam! É necessário disciplina e dedicação para portar a Beleza. Obrigado por terem me transmitido a Vossa energia. Que assim seja!

(.)








Email.

Meus Caros e minhas Caras,

É com a insígnia da beleza de tê-los como contato, que eu peço que vocês se dediquem a ler esse meu “afeto” anexo.
Meu novo texto!
Sim sou eu Guto, talvez vc me conheça, talvez não. Peço que nos dediquemos ao menos a honraria de vc confiar que eu não divulgo vírus!
Vamos lá, é sexta-feira, happy-hour!, a hora da fuga! Faz tempo que não nos vemos! Também estava com saudades de bater esses e-mails sem aviso prévio em vossas caixas de entrada rs
So, here we go again! Take a sit and enjoy! Salve-o em arquivo e o leiam depois desse convívio humano no bar e na cerveja, pq também se vcs não portarem essa Filosofia mundana dos botecos e paqueras, não vamos nos entender rs
Por favor, e pelo nosso estranho convívio, Leiam o meu afeto. Dediquem-se e eu irei me dedicar em dobro! Arte e Filosofia de transformação é o meu mais autentico “oi” depois desse longo tempo!
Abraços!
Thank you!
Guto.
p.s: Black Friday, na hora que percebi, pensei: “não existe momento melhor para fazê-lo”!
27 de novembro de 2015.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

sociedade dos puros



Com o objetivo de entrar na Sociedade dos Puros, seguindo as pistas que encontrei em antigos livros de Ciências e Filosofia, e ouvindo homens e mulheres místicos que cruzei pelo caminho, como a chave para abrir os portões, recorri ao seguinte feitiço e ritual: Primeiro. Há um ano escrevi cinco testemunhos que fossem mais verdades de meu coração que consulta de pesquisa, contudo ainda assim sendo relevante ao tempo contemporâneo e de caráter universal. Esses testemunhos serviram como palavras introdutórias para a minha apresentação e a compreensão da mensagem inicial de Clarice. Segundo. Deveria queimar a roupa que eu estivesse vestindo antes de cada tentativa de iniciação. Terceiro. Lê-los em voz alta em lugares sagrados da Terra. Estou em condições miseráveis de dinheiro e saúde física. Só o autoconhecimento adquirido em cada detalhe do caminho me mantém em pé. Minha consciência peca um pouco e tento relembrar os testemunhos. O Primeiro é sobre a percepção da Arte. O Segundo é sobre a percepção da Economia. O Terceiro é sobre a percepção da Medicina. O Quarto é sobre a percepção do Relacionamento de Casal. O Quinto, e, não menos importante, é a percepção de Como me Sinto e a Proposta de Fuga. Os lerei em voz alta. Caso ainda continue o relato é porque não entrei na sociedade, exato como fez a civilização Maia. Talvez então eu deva percorrer novamente todos os lugares sagrados da Terra e repetir em cada um deles com o mesmo feitiço. Quando eu estiver entrado, e isso tudo for revelado, e terminar encerrando um ciclo e abrindo uma nova era em meu desenvolvimento espiritual, desejo mesmo que você possa um dia se juntar a nós. Estou atravessando o Atacama, no Chile, em direção à cidade dos incas, no Peru. Voltei em situações fisiológicas lastimáveis da Europa, Oriente Médio e Ásia. O tempo é agosto de 2016. Acantiza.

OS CINCO TESTEMUNHOS

(A realidade sem a forma, a fraude-ficção sem a projeção. Na sociedade Moderna essas duas partes de cada sentença dita não eram feitas para coexistir na concepção de raciocínio de um mesmo sujeito vivente nesse planeta. Ou o sujeito era realista e enxergava o contorno dos objetos sem questionar e acabava ali, ou o sujeito era imaginativo e projetava os valores que os objetos pareciam ter para si e era infinito. Vagar no meio das duas posturas cognitivas nunca foi ambiente seguro para a grande massa. Desde épocas remotas verdadeiros líderes do pensamento universal vieram para nos provar que esses limites na mente humana iriam ceder, só não sabíamos quando isso ocorreria em maior escala populacional. Alguns artistas e pensadores começaram relatar que esses limites na percepção dos sujeitos estavam caindo em bom número na virada do sec. XIX. Sr. F. N. chamou a geração que desceria de Espíritos Livres). 

(No contemporâneo Pós Moderno os valores dependem do contexto em que os itens estão sendo analisados. Tem muito de quântico nisso. O mercado de ações como exemplo é uma projeção de bens fixos em bens imaginários. Praticamente impossível de se calcular o valor real de uma mercadoria pelo tempo de trabalho e conhecimento necessários para produzi-la como concretizou Marx na chamada mais-valia. Os valores dos bens fixos atualmente variam da necessidade real ou induzida que um sujeito comprador vê naquilo que exista em matéria ou cotas abstratas. Como numa boa rodada de poker Texas hold`em o sujeito analisa que a sua mão está boa com as duas cartas recebidas, contudo depende da abertura gradativa das demais cartas na mesa para saber se de fato está. O ambiente é fator primordial no valor dos itens e por isso o capital humano de uma empresa está sendo tão expostamente analisado em suas reações comportamentais. O tempo de revelação ou não dos itens é fator primordial no ambiente em que a realidade e o imaginário se juntam para decidir os valores). 

 (Na Medicina, médicos e pesquisadores mais sensatos estão concluindo que o fator ou não determinante de determinada doença depende da reação do ambiente de fatores visíveis e não visíveis em que os agentes e o sujeito estão envolvidos. Vai-se ainda chegar à concepção que o tempo comportamental a se analisar no sujeito clínico é maior ao que a terapêutica tem se prestado em estudar: o sujeito tem um histórico de suas vidas passadas que deve ser levado em conta para que os clínicos cheguem aos exatos diagnósticos). 

(Qualquer relação humana na atualidade Pós Moderna que se queira abençoada e protegida de danos e que se queira digna de valor atemporal necessita si conhecer em caráter de dualidade: coodependência de valores individuais e únicos de afeto e atração das duas almas no histórico de séculos passados de convivência, e a cooperação pelo desenvolvimento mútuo das partes em seu crescimento individual, espiritual e único que lhes foi dado nesta existência e forma atuais. O casal formado desta união está envolto em energias simpáticas e milenares. O sucesso do relacionamento depende do tempo integral em que os itens envolvidos se dedicam a demonstrar considerações de fidelidade; afeto e conciliação múltipla, sendo essas, maiores que qualquer adversidade e desejo vindos do ambiente).

(Alguns sujeitos pós-modernos, mesmo cientes da dualidade que converge na concepção dos itens, ainda vagam no meio do seu posicionamento individual e lutam que a realidade é uma fraude á menos que se faça a projeção dos objetos numa tela que as distancie dos símbolos firmados no momento em que as coisas estão existindo. É bom aqui você já ser um indivíduo de intuição, caso contrário você está num belo impasse: não vai sentir a forma e não vai controlar a projeção. Não terá a retidão da ofensa e assim o proveito da ignorância. Digo que nesse estágio, e com esse corpo, sem sensibilidades mediúnicas ostensivas, e, se você consegue escrever um discurso desses, é melhor se perder numa viagem eterna de ácido e álcool, anulando-se em libido e em pretensões de investimentos financeiros de qualquer forma).
(Acantiza. Cinco Testemunhos escritos em 05 de novembro de 2015, Alto Vale do Ribeira, Brasil).

- em algum tempo futuro-
Devidos conceitos apresentados, senhoras e senhores do júri. Coloco-me aqui em posição de me encontrar com os autênticos Espíritos Livres anunciados pelo Sr. F. N. e, entre eles, aquela que vem a ser a minha parte mútua na escala universal. Se ela não estiver no envoltório carnal, ao menos deixe-me ver a vossa forma e faça-me lembrar do nosso amor milenar. Os detentos aqui têm os seus dias de visitas, as horas de sono latente não tem sido nada suficientes, são uma espúria inconsciente porque não fixo tais momentos em minha vivencia emocional, quando desperto, ela se foi. Façam-me o favor, tem sido a minha súplica desde que aqui estou, mesmo que ainda eu não soubesse disso e, além do mais, creio que tenho merecido por boa conduta. O tempo é março de 2016, após ler os testemunhos em frente ao Taj Mahal, Índia, tendo passado pelo Egito, Israel e Palestina, nos templos de Jerusalém e ainda na busca.

- em algum tempo futuro-
Tenho passado algumas estações e os Espíritos Livres mencionados pelo Sr. F. N. não estavam lá para o grande encontro. Dirijo-me ao bar do vagão central e está vazio de gente viva: são 05:01 am. Encontro um pouco de chá e leite mornos. Mesmo com as tundras distorcidas no enquadramento das janelas, úmidas pelo frio exterior, a calefação que acalenta o organismo nesse interior de floresta siberiana, não tem como desaparecer que quem escreve é um dos Hollow Men. Abro o notebook. Não fossem pela mensagem de Clarice na caixa de entrada de e-mails; pelo texto em que manejo as memórias como a torquesa prendendo com arame recozido na carne experiências desse vácuo, eu teria desistido.
Minha família de sangue traiu as minhas expectativas; minha esperança no ser humano desfaleceu. Como os investimentos feitos na terra, para mim foram todos enterrados. Estou por mim, cruzando países onde me sinto mais perto de algo bom, com pouco dinheiro, sem proposta de trabalho. Não devo sair daqui para um final de sucesso, encontrando-me com os distintos anfitriões percebidos por Sr. F. N. Resta-me retaliar-me ao grupo como tentei fazer na época. Transcrevo a mensagem de seis meses passados acrescentando melhoras.
Sinceramente seus,
Acantiza. (No trem Trans Siberiano, Rússia, meados de abril de 2016).

- tempo passado-

CLARICE TORNOU O GRUPO “ópio na caixa de correios: a campainha é intimidade demais para alguém com quem não teremos um orgasmo” DE ABERTO À PRIVADO.

Okay, deixem-me relatar porque não faço mais parte desse seleto grupo:
Em lugar de crítica ácida pela atitude viciada e estúpida do ser humano, negocio barganhas com eles;
Ao invés do grito, rezo;
(Mesmo que não aja paixão na minha oração. E nem poderia haver: há necessidade da presença do que não faço mais parte para sentir paixão).
A antiga casa de minha avó virou um comércio agrícola. E não há em mim o que sentir disso;
Existe aqui uma ilha onde imaginei-me com uma mulher, uma biblioteca, lareira, adega, criar alguns patos e marrecos, luz de lampião à gás, algum moleque ou menina crescendo pelas beiras. Não há mais brilho de esperança em tal sonho;
Não sei qual foi o filme ganhador de Cannes;
Não escuto mais Dylan: o escritor e o cantor;
Em lugar das camadas de cores da folhagem das árvores, espero o brilho torpe da resina;
Ao invés de pisar a areia e me remeter à cena de amantes, rolando à milanesa;
Aos relatos dos intocáveis mistérios dos castelos de areia infantis;
Até remeter-me ao clichê do nome dentro do coração, que não deixa passar que é também a menção de SOS, escrito dos náufragos:
Até isso seria atitude melhor que perder horas de planos pensando em que preço eu irei vender o metro cúbico de areia média grossa e seca;
O Lago dos Cisnes agora é de tilápias para corte.
Motivos, os admito de montes:
Fui dobrado por uma medicina mercenária e aceitei o que me indicaram como cura. Graças à Deus isso acabou. Mas essa quebra não é o suficiente para trazê-los de volta: se me dessem a capacidade de escrever um tratado de como os humanos estão sendo dopados por falastrões de jaleco que não fazem ideia da Medicina que vcs conhecem, mas vcs não atenderão esse apelo: mencionei Deus nessa sentença;
Nego-me ter uma viagem de ácido ou de haxixe de qualidade. Na minha hora de morte vou pedir uma dose, como fez Aldous Huxley à sua mulher: desculpem-me, não terei mulher que entenda isso;
Afastei toda e qualquer companhia feminina em quem eu pudesse depositar tamanha simbiose de missão espiritual.
O que vivo? Vivo um contracenso, agarrei-me ao caminho que desconheço: não tenho respeito de quem atraio agora e quem eram os simpáticos, dos quais remeto-me nesse apelo de exclusão, neguei a companhia e a luz ao cair.
Vosso intento era inspirar as minhas escolhas. Decidi ser consciente delas. É o risco que aprendi com os perecíveis humanos: meter as mãos pelos pés de um corpo limitante: não há mais volta; podemos estar cruzando o mesmo caminho, mas não vamos nos reconhecer.
Não sei qual é o melhor ou pior deserto: a fraude que estou vivendo aqui nessa redoma cinza e sem contrastes, ou onde vcs estiverem, juntos como fomos um dia, sem a presença de um brilho mais que eu pudesse dar.
Mas tenho que admitir: sinto a falta do amor que tínhamos por nós nos nossos bons tempos;
Os grupos de seres humanos que posso frequentar se contenta com a selfie em bares de quinta categoria comparada ao quadro que temos com as luas do planeta Saturno ao fundo.
Sinceramente seus,
Acantiza.. (Alto Vale do Ribeira, Brasil, 02 de novembro de 2015. 18:03:33 hs).

-algum tempo futuro-
Após ler os cinco testemunhos em mais um lugar nos Caminhos de Santiago, Espanha, tendo saído de Porto e a caminho do território francês, absolutamente despido de vestes e em frangalhos de saúde, comecei lembrar-me que toda essa busca se desenhou após a minha exclusão por Clarice do grupo de Artes e Filosofia. Então veio a consciência do que eu estava fazendo e me tornando em meus investimentos na terra, que seriam o retorno financeiro que esperava para realizar essa viagem. Com os desentendimentos familiares, tive que partir por minha conta e o meu credo. Estou retornando para América do Sul. Irei para o Chile e Peru, depois México, Estados Unidos da América, Canadá e por fim Alasca. Se eu não tiver entrado na Sociedade dos Puros, devo começar a jornada de novo por outros rumos e meios, outras pessoas outros anjos. A minha consciência falha, não acredito que o meu corpo terá forças fisiológicas porque vivo na mais completa miséria material. Não consigo manter como conteúdo emocional nada pelo que passei no caminho até aqui, é como se somente o presente existisse, ou somente o fato da procura em si apagar os fins neles mesmos, ou a presença constante, ainda que intangível, do objeto de desejo faça com que nada nem ninguém nessa Terra tenha o valor e a importância objetivas. Então você, alma mútua, se está na mesma busca e compartilha dos mesmos anseios, venha ao meu encontro, antes que seja tarde e, eu não consiga lhe contar a minha história e testemunhos, com o devido amor no enredo, enredo ainda não envenenado pelo rancor que advém de sua falta. Recomeço a ler os testemunhos. O tempo é Santiago de Compostela, Espanha, maio de 2016. Acantiza.