Com o objetivo de entrar na Sociedade dos
Puros, seguindo as pistas que encontrei em antigos livros de Ciências e
Filosofia, e ouvindo homens e mulheres místicos que cruzei pelo caminho, como a
chave para abrir os portões, recorri ao seguinte feitiço e ritual: Primeiro. Há
um ano escrevi cinco testemunhos que fossem mais verdades de meu coração que
consulta de pesquisa, contudo ainda assim sendo relevante ao tempo
contemporâneo e de caráter universal. Esses testemunhos serviram como palavras
introdutórias para a minha apresentação e a compreensão da mensagem inicial de
Clarice. Segundo. Deveria queimar a roupa que eu estivesse vestindo antes de
cada tentativa de iniciação. Terceiro. Lê-los em voz alta em lugares sagrados da
Terra. Estou em condições miseráveis de dinheiro e saúde física. Só o
autoconhecimento adquirido em cada detalhe do caminho me mantém em pé. Minha
consciência peca um pouco e tento relembrar os testemunhos. O Primeiro é sobre
a percepção da Arte. O Segundo é sobre a percepção da Economia. O Terceiro é
sobre a percepção da Medicina. O Quarto é sobre a percepção do Relacionamento
de Casal. O Quinto, e, não menos importante, é a percepção de Como me Sinto e a
Proposta de Fuga. Os lerei em voz alta. Caso ainda continue o relato é porque
não entrei na sociedade, exato como fez a civilização Maia. Talvez então eu
deva percorrer novamente todos os lugares sagrados da Terra e repetir em cada
um deles com o mesmo feitiço. Quando eu estiver entrado, e isso tudo for
revelado, e terminar encerrando um ciclo e abrindo uma nova era em meu
desenvolvimento espiritual, desejo mesmo que você possa um dia se juntar a nós.
Estou atravessando o Atacama, no Chile, em direção à cidade dos incas, no Peru.
Voltei em situações fisiológicas lastimáveis da Europa, Oriente Médio e Ásia. O
tempo é agosto de 2016. Acantiza.
OS
CINCO TESTEMUNHOS
(A realidade
sem a forma, a fraude-ficção sem a projeção. Na sociedade Moderna essas duas
partes de cada sentença dita não eram feitas para coexistir na concepção de
raciocínio de um mesmo sujeito vivente nesse planeta. Ou o sujeito era realista
e enxergava o contorno dos objetos sem questionar e acabava ali, ou o sujeito
era imaginativo e projetava os valores que os objetos pareciam ter para si e
era infinito. Vagar no meio das duas posturas cognitivas nunca foi ambiente
seguro para a grande massa. Desde épocas remotas verdadeiros líderes do
pensamento universal vieram para nos provar que esses limites na mente humana iriam
ceder, só não sabíamos quando isso ocorreria em maior escala populacional. Alguns
artistas e pensadores começaram relatar que esses limites na percepção dos
sujeitos estavam caindo em bom número na virada do sec. XIX. Sr. F. N. chamou a
geração que desceria de Espíritos Livres).
(No
contemporâneo Pós Moderno os valores dependem do contexto em que os itens estão
sendo analisados. Tem muito de quântico nisso. O mercado de ações como exemplo
é uma projeção de bens fixos em bens imaginários. Praticamente impossível de se
calcular o valor real de uma mercadoria pelo tempo de trabalho e conhecimento
necessários para produzi-la como concretizou Marx na chamada mais-valia. Os
valores dos bens fixos atualmente variam da necessidade real ou induzida que um
sujeito comprador vê naquilo que exista em matéria ou cotas abstratas. Como numa
boa rodada de poker Texas hold`em o sujeito analisa que a sua mão está boa com
as duas cartas recebidas, contudo depende da abertura gradativa das demais
cartas na mesa para saber se de fato está. O ambiente é fator primordial no
valor dos itens e por isso o capital humano de uma empresa está sendo tão
expostamente analisado em suas reações comportamentais. O tempo de revelação ou
não dos itens é fator primordial no ambiente em que a realidade e o imaginário
se juntam para decidir os valores).
(Na Medicina, médicos e pesquisadores mais
sensatos estão concluindo que o fator ou não determinante de determinada doença
depende da reação do ambiente de fatores visíveis e não visíveis em que os
agentes e o sujeito estão envolvidos. Vai-se ainda chegar à concepção que o
tempo comportamental a se analisar no sujeito clínico é maior ao que a
terapêutica tem se prestado em estudar: o sujeito tem um histórico de suas
vidas passadas que deve ser levado em conta para que os clínicos cheguem aos
exatos diagnósticos).
(Qualquer
relação humana na atualidade Pós Moderna que se queira abençoada e protegida de
danos e que se queira digna de valor atemporal necessita si conhecer em caráter
de dualidade: coodependência de valores individuais e únicos de afeto e atração
das duas almas no histórico de séculos passados de convivência, e a cooperação
pelo desenvolvimento mútuo das partes em seu crescimento individual, espiritual
e único que lhes foi dado nesta existência e forma atuais. O casal formado
desta união está envolto em energias simpáticas e milenares. O sucesso do
relacionamento depende do tempo integral em que os itens envolvidos se dedicam
a demonstrar considerações de fidelidade; afeto e conciliação múltipla, sendo
essas, maiores que qualquer adversidade e desejo vindos do ambiente).
(Alguns
sujeitos pós-modernos, mesmo cientes da dualidade que converge na concepção dos
itens, ainda vagam no meio do seu posicionamento individual e lutam que a
realidade é uma fraude á menos que se faça a projeção dos objetos numa tela que
as distancie dos símbolos firmados no momento em que as coisas estão existindo.
É bom aqui você já ser um indivíduo de intuição, caso contrário você está num
belo impasse: não vai sentir a forma e não vai controlar a projeção. Não terá a
retidão da ofensa e assim o proveito da ignorância. Digo que nesse estágio, e
com esse corpo, sem sensibilidades mediúnicas ostensivas, e, se você consegue
escrever um discurso desses, é melhor se perder numa viagem eterna de ácido e
álcool, anulando-se em libido e em pretensões de investimentos financeiros de
qualquer forma).
(Acantiza. Cinco
Testemunhos escritos em 05 de novembro de 2015, Alto Vale do Ribeira, Brasil).
-
em algum tempo futuro-
Devidos conceitos apresentados, senhoras e
senhores do júri. Coloco-me aqui em posição de me encontrar com os autênticos
Espíritos Livres anunciados pelo Sr. F. N. e, entre eles, aquela que vem a ser
a minha parte mútua na escala universal. Se ela não estiver no envoltório
carnal, ao menos deixe-me ver a vossa forma e faça-me lembrar do nosso amor
milenar. Os detentos aqui têm os seus dias de visitas, as horas de sono latente
não tem sido nada suficientes, são uma espúria inconsciente porque não fixo tais
momentos em minha vivencia emocional, quando desperto, ela se foi. Façam-me o
favor, tem sido a minha súplica desde que aqui estou, mesmo que ainda eu não
soubesse disso e, além do mais, creio que tenho merecido por boa conduta. O
tempo é março de 2016, após ler os testemunhos em frente ao Taj Mahal, Índia,
tendo passado pelo Egito, Israel e Palestina, nos templos de Jerusalém e ainda
na busca.
-
em algum tempo futuro-
Tenho passado algumas estações e os
Espíritos Livres mencionados pelo Sr. F. N. não estavam lá para o grande encontro.
Dirijo-me ao bar do vagão central e está vazio de gente viva: são 05:01 am. Encontro
um pouco de chá e leite mornos. Mesmo com as tundras distorcidas no
enquadramento das janelas, úmidas pelo frio exterior, a calefação que acalenta
o organismo nesse interior de floresta siberiana, não tem como desaparecer que
quem escreve é um dos Hollow Men. Abro o notebook. Não fossem pela mensagem de
Clarice na caixa de entrada de e-mails; pelo texto em que manejo as memórias
como a torquesa prendendo com arame recozido na carne experiências desse vácuo,
eu teria desistido.
Minha família de sangue traiu as minhas
expectativas; minha esperança no ser humano desfaleceu. Como os investimentos
feitos na terra, para mim foram todos enterrados. Estou por mim, cruzando
países onde me sinto mais perto de algo bom, com pouco dinheiro, sem proposta
de trabalho. Não devo sair daqui para um final de sucesso, encontrando-me com
os distintos anfitriões percebidos por Sr. F. N. Resta-me retaliar-me ao grupo
como tentei fazer na época. Transcrevo a mensagem de seis meses passados
acrescentando melhoras.
Sinceramente seus,
Acantiza. (No trem Trans Siberiano, Rússia, meados de abril de 2016).
- tempo passado-
CLARICE TORNOU O
GRUPO “ópio na caixa de correios: a campainha é intimidade demais para alguém
com quem não teremos um orgasmo” DE ABERTO À PRIVADO.
Okay, deixem-me relatar porque
não faço mais parte desse seleto grupo:
Em lugar de crítica ácida pela
atitude viciada e estúpida do ser humano, negocio barganhas com eles;
Ao invés do grito, rezo;
(Mesmo que não aja paixão na
minha oração. E nem poderia haver: há necessidade da presença do que não faço
mais parte para sentir paixão).
A antiga casa de minha avó virou
um comércio agrícola. E não há em mim o que sentir disso;
Existe aqui uma ilha onde
imaginei-me com uma mulher, uma biblioteca, lareira, adega, criar alguns patos
e marrecos, luz de lampião à gás, algum moleque ou menina crescendo pelas
beiras. Não há mais brilho de esperança em tal sonho;
Não sei qual foi o filme ganhador
de Cannes;
Não escuto mais Dylan: o escritor
e o cantor;
Em lugar das camadas de cores da
folhagem das árvores, espero o brilho torpe da resina;
Ao invés de pisar a areia e me
remeter à cena de amantes, rolando à milanesa;
Aos relatos dos intocáveis
mistérios dos castelos de areia infantis;
Até remeter-me ao clichê do nome
dentro do coração, que não deixa passar que é também a menção de SOS, escrito
dos náufragos:
Até isso seria atitude melhor que
perder horas de planos pensando em que preço eu irei vender o metro cúbico de
areia média grossa e seca;
O Lago dos Cisnes agora é de
tilápias para corte.
Motivos, os admito de montes:
Fui dobrado por uma medicina
mercenária e aceitei o que me indicaram como cura. Graças à Deus isso acabou.
Mas essa quebra não é o suficiente para trazê-los de volta: se me dessem a
capacidade de escrever um tratado de como os humanos estão sendo dopados por
falastrões de jaleco que não fazem ideia da Medicina que vcs conhecem, mas vcs
não atenderão esse apelo: mencionei Deus nessa sentença;
Nego-me ter uma viagem de ácido
ou de haxixe de qualidade. Na minha hora de morte vou pedir uma dose, como fez Aldous
Huxley à sua mulher: desculpem-me, não terei mulher que entenda isso;
Afastei toda e qualquer companhia
feminina em quem eu pudesse depositar tamanha simbiose de missão espiritual.
O que vivo? Vivo um contracenso, agarrei-me
ao caminho que desconheço: não tenho respeito de quem atraio agora e quem eram
os simpáticos, dos quais remeto-me nesse apelo de exclusão, neguei a companhia
e a luz ao cair.
Vosso intento era inspirar as
minhas escolhas. Decidi ser consciente delas. É o risco que aprendi com os
perecíveis humanos: meter as mãos pelos pés de um corpo limitante: não há mais
volta; podemos estar cruzando o mesmo caminho, mas não vamos nos reconhecer.
Não sei qual é o melhor ou pior
deserto: a fraude que estou vivendo aqui nessa redoma cinza e sem contrastes,
ou onde vcs estiverem, juntos como fomos um dia, sem a presença de um brilho
mais que eu pudesse dar.
Mas tenho que admitir: sinto a
falta do amor que tínhamos por nós nos nossos bons tempos;
Os grupos de seres humanos que
posso frequentar se contenta com a selfie em bares de quinta categoria comparada
ao quadro que temos com as luas do planeta Saturno ao fundo.
Sinceramente seus,
Acantiza.. (Alto Vale do Ribeira,
Brasil, 02 de novembro de 2015. 18:03:33 hs).
-algum tempo futuro-
Após ler os cinco testemunhos em mais um lugar nos Caminhos de
Santiago, Espanha, tendo saído de Porto e a caminho do território francês, absolutamente
despido de vestes e em frangalhos de saúde, comecei lembrar-me que toda essa
busca se desenhou após a minha exclusão por Clarice do grupo de Artes e
Filosofia. Então veio a consciência do que eu estava fazendo e me tornando em
meus investimentos na terra, que seriam o retorno financeiro que esperava para
realizar essa viagem. Com os desentendimentos familiares, tive que partir por
minha conta e o meu credo. Estou retornando para América do Sul. Irei para o
Chile e Peru, depois México, Estados Unidos da América, Canadá e por fim
Alasca. Se eu não tiver entrado na Sociedade dos Puros, devo começar a jornada
de novo por outros rumos e meios, outras pessoas outros anjos. A minha
consciência falha, não acredito que o meu corpo terá forças fisiológicas porque
vivo na mais completa miséria material. Não consigo manter como conteúdo
emocional nada pelo que passei no caminho até aqui, é como se somente o
presente existisse, ou somente o fato da procura em si apagar os fins neles
mesmos, ou a presença constante, ainda que intangível, do objeto de desejo faça
com que nada nem ninguém nessa Terra tenha o valor e a importância objetivas.
Então você, alma mútua, se está na mesma busca e compartilha dos mesmos anseios,
venha ao meu encontro, antes que seja tarde e, eu não consiga lhe contar a
minha história e testemunhos, com o devido amor no enredo, enredo ainda não
envenenado pelo rancor que advém de sua falta. Recomeço a ler os testemunhos. O
tempo é Santiago de Compostela, Espanha, maio de 2016. Acantiza.