quinta-feira, 12 de novembro de 2015

sociedade dos puros



Com o objetivo de entrar na Sociedade dos Puros, seguindo as pistas que encontrei em antigos livros de Ciências e Filosofia, e ouvindo homens e mulheres místicos que cruzei pelo caminho, como a chave para abrir os portões, recorri ao seguinte feitiço e ritual: Primeiro. Há um ano escrevi cinco testemunhos que fossem mais verdades de meu coração que consulta de pesquisa, contudo ainda assim sendo relevante ao tempo contemporâneo e de caráter universal. Esses testemunhos serviram como palavras introdutórias para a minha apresentação e a compreensão da mensagem inicial de Clarice. Segundo. Deveria queimar a roupa que eu estivesse vestindo antes de cada tentativa de iniciação. Terceiro. Lê-los em voz alta em lugares sagrados da Terra. Estou em condições miseráveis de dinheiro e saúde física. Só o autoconhecimento adquirido em cada detalhe do caminho me mantém em pé. Minha consciência peca um pouco e tento relembrar os testemunhos. O Primeiro é sobre a percepção da Arte. O Segundo é sobre a percepção da Economia. O Terceiro é sobre a percepção da Medicina. O Quarto é sobre a percepção do Relacionamento de Casal. O Quinto, e, não menos importante, é a percepção de Como me Sinto e a Proposta de Fuga. Os lerei em voz alta. Caso ainda continue o relato é porque não entrei na sociedade, exato como fez a civilização Maia. Talvez então eu deva percorrer novamente todos os lugares sagrados da Terra e repetir em cada um deles com o mesmo feitiço. Quando eu estiver entrado, e isso tudo for revelado, e terminar encerrando um ciclo e abrindo uma nova era em meu desenvolvimento espiritual, desejo mesmo que você possa um dia se juntar a nós. Estou atravessando o Atacama, no Chile, em direção à cidade dos incas, no Peru. Voltei em situações fisiológicas lastimáveis da Europa, Oriente Médio e Ásia. O tempo é agosto de 2016. Acantiza.

OS CINCO TESTEMUNHOS

(A realidade sem a forma, a fraude-ficção sem a projeção. Na sociedade Moderna essas duas partes de cada sentença dita não eram feitas para coexistir na concepção de raciocínio de um mesmo sujeito vivente nesse planeta. Ou o sujeito era realista e enxergava o contorno dos objetos sem questionar e acabava ali, ou o sujeito era imaginativo e projetava os valores que os objetos pareciam ter para si e era infinito. Vagar no meio das duas posturas cognitivas nunca foi ambiente seguro para a grande massa. Desde épocas remotas verdadeiros líderes do pensamento universal vieram para nos provar que esses limites na mente humana iriam ceder, só não sabíamos quando isso ocorreria em maior escala populacional. Alguns artistas e pensadores começaram relatar que esses limites na percepção dos sujeitos estavam caindo em bom número na virada do sec. XIX. Sr. F. N. chamou a geração que desceria de Espíritos Livres). 

(No contemporâneo Pós Moderno os valores dependem do contexto em que os itens estão sendo analisados. Tem muito de quântico nisso. O mercado de ações como exemplo é uma projeção de bens fixos em bens imaginários. Praticamente impossível de se calcular o valor real de uma mercadoria pelo tempo de trabalho e conhecimento necessários para produzi-la como concretizou Marx na chamada mais-valia. Os valores dos bens fixos atualmente variam da necessidade real ou induzida que um sujeito comprador vê naquilo que exista em matéria ou cotas abstratas. Como numa boa rodada de poker Texas hold`em o sujeito analisa que a sua mão está boa com as duas cartas recebidas, contudo depende da abertura gradativa das demais cartas na mesa para saber se de fato está. O ambiente é fator primordial no valor dos itens e por isso o capital humano de uma empresa está sendo tão expostamente analisado em suas reações comportamentais. O tempo de revelação ou não dos itens é fator primordial no ambiente em que a realidade e o imaginário se juntam para decidir os valores). 

 (Na Medicina, médicos e pesquisadores mais sensatos estão concluindo que o fator ou não determinante de determinada doença depende da reação do ambiente de fatores visíveis e não visíveis em que os agentes e o sujeito estão envolvidos. Vai-se ainda chegar à concepção que o tempo comportamental a se analisar no sujeito clínico é maior ao que a terapêutica tem se prestado em estudar: o sujeito tem um histórico de suas vidas passadas que deve ser levado em conta para que os clínicos cheguem aos exatos diagnósticos). 

(Qualquer relação humana na atualidade Pós Moderna que se queira abençoada e protegida de danos e que se queira digna de valor atemporal necessita si conhecer em caráter de dualidade: coodependência de valores individuais e únicos de afeto e atração das duas almas no histórico de séculos passados de convivência, e a cooperação pelo desenvolvimento mútuo das partes em seu crescimento individual, espiritual e único que lhes foi dado nesta existência e forma atuais. O casal formado desta união está envolto em energias simpáticas e milenares. O sucesso do relacionamento depende do tempo integral em que os itens envolvidos se dedicam a demonstrar considerações de fidelidade; afeto e conciliação múltipla, sendo essas, maiores que qualquer adversidade e desejo vindos do ambiente).

(Alguns sujeitos pós-modernos, mesmo cientes da dualidade que converge na concepção dos itens, ainda vagam no meio do seu posicionamento individual e lutam que a realidade é uma fraude á menos que se faça a projeção dos objetos numa tela que as distancie dos símbolos firmados no momento em que as coisas estão existindo. É bom aqui você já ser um indivíduo de intuição, caso contrário você está num belo impasse: não vai sentir a forma e não vai controlar a projeção. Não terá a retidão da ofensa e assim o proveito da ignorância. Digo que nesse estágio, e com esse corpo, sem sensibilidades mediúnicas ostensivas, e, se você consegue escrever um discurso desses, é melhor se perder numa viagem eterna de ácido e álcool, anulando-se em libido e em pretensões de investimentos financeiros de qualquer forma).
(Acantiza. Cinco Testemunhos escritos em 05 de novembro de 2015, Alto Vale do Ribeira, Brasil).

- em algum tempo futuro-
Devidos conceitos apresentados, senhoras e senhores do júri. Coloco-me aqui em posição de me encontrar com os autênticos Espíritos Livres anunciados pelo Sr. F. N. e, entre eles, aquela que vem a ser a minha parte mútua na escala universal. Se ela não estiver no envoltório carnal, ao menos deixe-me ver a vossa forma e faça-me lembrar do nosso amor milenar. Os detentos aqui têm os seus dias de visitas, as horas de sono latente não tem sido nada suficientes, são uma espúria inconsciente porque não fixo tais momentos em minha vivencia emocional, quando desperto, ela se foi. Façam-me o favor, tem sido a minha súplica desde que aqui estou, mesmo que ainda eu não soubesse disso e, além do mais, creio que tenho merecido por boa conduta. O tempo é março de 2016, após ler os testemunhos em frente ao Taj Mahal, Índia, tendo passado pelo Egito, Israel e Palestina, nos templos de Jerusalém e ainda na busca.

- em algum tempo futuro-
Tenho passado algumas estações e os Espíritos Livres mencionados pelo Sr. F. N. não estavam lá para o grande encontro. Dirijo-me ao bar do vagão central e está vazio de gente viva: são 05:01 am. Encontro um pouco de chá e leite mornos. Mesmo com as tundras distorcidas no enquadramento das janelas, úmidas pelo frio exterior, a calefação que acalenta o organismo nesse interior de floresta siberiana, não tem como desaparecer que quem escreve é um dos Hollow Men. Abro o notebook. Não fossem pela mensagem de Clarice na caixa de entrada de e-mails; pelo texto em que manejo as memórias como a torquesa prendendo com arame recozido na carne experiências desse vácuo, eu teria desistido.
Minha família de sangue traiu as minhas expectativas; minha esperança no ser humano desfaleceu. Como os investimentos feitos na terra, para mim foram todos enterrados. Estou por mim, cruzando países onde me sinto mais perto de algo bom, com pouco dinheiro, sem proposta de trabalho. Não devo sair daqui para um final de sucesso, encontrando-me com os distintos anfitriões percebidos por Sr. F. N. Resta-me retaliar-me ao grupo como tentei fazer na época. Transcrevo a mensagem de seis meses passados acrescentando melhoras.
Sinceramente seus,
Acantiza. (No trem Trans Siberiano, Rússia, meados de abril de 2016).

- tempo passado-

CLARICE TORNOU O GRUPO “ópio na caixa de correios: a campainha é intimidade demais para alguém com quem não teremos um orgasmo” DE ABERTO À PRIVADO.

Okay, deixem-me relatar porque não faço mais parte desse seleto grupo:
Em lugar de crítica ácida pela atitude viciada e estúpida do ser humano, negocio barganhas com eles;
Ao invés do grito, rezo;
(Mesmo que não aja paixão na minha oração. E nem poderia haver: há necessidade da presença do que não faço mais parte para sentir paixão).
A antiga casa de minha avó virou um comércio agrícola. E não há em mim o que sentir disso;
Existe aqui uma ilha onde imaginei-me com uma mulher, uma biblioteca, lareira, adega, criar alguns patos e marrecos, luz de lampião à gás, algum moleque ou menina crescendo pelas beiras. Não há mais brilho de esperança em tal sonho;
Não sei qual foi o filme ganhador de Cannes;
Não escuto mais Dylan: o escritor e o cantor;
Em lugar das camadas de cores da folhagem das árvores, espero o brilho torpe da resina;
Ao invés de pisar a areia e me remeter à cena de amantes, rolando à milanesa;
Aos relatos dos intocáveis mistérios dos castelos de areia infantis;
Até remeter-me ao clichê do nome dentro do coração, que não deixa passar que é também a menção de SOS, escrito dos náufragos:
Até isso seria atitude melhor que perder horas de planos pensando em que preço eu irei vender o metro cúbico de areia média grossa e seca;
O Lago dos Cisnes agora é de tilápias para corte.
Motivos, os admito de montes:
Fui dobrado por uma medicina mercenária e aceitei o que me indicaram como cura. Graças à Deus isso acabou. Mas essa quebra não é o suficiente para trazê-los de volta: se me dessem a capacidade de escrever um tratado de como os humanos estão sendo dopados por falastrões de jaleco que não fazem ideia da Medicina que vcs conhecem, mas vcs não atenderão esse apelo: mencionei Deus nessa sentença;
Nego-me ter uma viagem de ácido ou de haxixe de qualidade. Na minha hora de morte vou pedir uma dose, como fez Aldous Huxley à sua mulher: desculpem-me, não terei mulher que entenda isso;
Afastei toda e qualquer companhia feminina em quem eu pudesse depositar tamanha simbiose de missão espiritual.
O que vivo? Vivo um contracenso, agarrei-me ao caminho que desconheço: não tenho respeito de quem atraio agora e quem eram os simpáticos, dos quais remeto-me nesse apelo de exclusão, neguei a companhia e a luz ao cair.
Vosso intento era inspirar as minhas escolhas. Decidi ser consciente delas. É o risco que aprendi com os perecíveis humanos: meter as mãos pelos pés de um corpo limitante: não há mais volta; podemos estar cruzando o mesmo caminho, mas não vamos nos reconhecer.
Não sei qual é o melhor ou pior deserto: a fraude que estou vivendo aqui nessa redoma cinza e sem contrastes, ou onde vcs estiverem, juntos como fomos um dia, sem a presença de um brilho mais que eu pudesse dar.
Mas tenho que admitir: sinto a falta do amor que tínhamos por nós nos nossos bons tempos;
Os grupos de seres humanos que posso frequentar se contenta com a selfie em bares de quinta categoria comparada ao quadro que temos com as luas do planeta Saturno ao fundo.
Sinceramente seus,
Acantiza.. (Alto Vale do Ribeira, Brasil, 02 de novembro de 2015. 18:03:33 hs).

-algum tempo futuro-
Após ler os cinco testemunhos em mais um lugar nos Caminhos de Santiago, Espanha, tendo saído de Porto e a caminho do território francês, absolutamente despido de vestes e em frangalhos de saúde, comecei lembrar-me que toda essa busca se desenhou após a minha exclusão por Clarice do grupo de Artes e Filosofia. Então veio a consciência do que eu estava fazendo e me tornando em meus investimentos na terra, que seriam o retorno financeiro que esperava para realizar essa viagem. Com os desentendimentos familiares, tive que partir por minha conta e o meu credo. Estou retornando para América do Sul. Irei para o Chile e Peru, depois México, Estados Unidos da América, Canadá e por fim Alasca. Se eu não tiver entrado na Sociedade dos Puros, devo começar a jornada de novo por outros rumos e meios, outras pessoas outros anjos. A minha consciência falha, não acredito que o meu corpo terá forças fisiológicas porque vivo na mais completa miséria material. Não consigo manter como conteúdo emocional nada pelo que passei no caminho até aqui, é como se somente o presente existisse, ou somente o fato da procura em si apagar os fins neles mesmos, ou a presença constante, ainda que intangível, do objeto de desejo faça com que nada nem ninguém nessa Terra tenha o valor e a importância objetivas. Então você, alma mútua, se está na mesma busca e compartilha dos mesmos anseios, venha ao meu encontro, antes que seja tarde e, eu não consiga lhe contar a minha história e testemunhos, com o devido amor no enredo, enredo ainda não envenenado pelo rancor que advém de sua falta. Recomeço a ler os testemunhos. O tempo é Santiago de Compostela, Espanha, maio de 2016. Acantiza.