quarta-feira, 18 de agosto de 2010

do vendedor de vassouras ou algo sobre o tempo..


The Museum of Modern Art, New York. Purchase © Henri Cartier-Bresson - Magnum Photos



       “Spiritual Destiny”- Ivo Perelman – sobre página de Agostina Taruschio:




       Interrompendo o diálogo do vendedor de vassouras
       Que hábil escuta o outro senhor que parece enfadá-lo
       Passa uma doméstica com uma sacola preta.
       As cores de entardecer frio puxam pr`européias.
       A cinza do cigarro cai sobre a folha já não tão cinza.
       Logo duas domésticas mais passam.
       Essas não trazem bolsa alguma.

       Um outro alguém, em roupas gastas, senta-se e me observa
       O homem das vassouras, agora livre, rabisca alguma coisa
       Existe a máquina e faz barulho num apartamento próximo

       Essas tardes de agosto têm cheiro de lugar
       Que nem tanto eu ou aquele que me observa
       Saberia pontuar onde é em exato.

       A pegada da ida, apesar de mostrar-se, já não está no mesmo lugar na volta.


Acantiza.

das 15:35 ás 17:35

Americana(18.08.2010).



   Partitura do exílio.
                                 Augusto Cavalcanti.



   E como lembra o sabiá que canta
   sentindo o cheiro das penas num coco
   sobre tua perna azeda, num bonde num canto.
   Eles se esquecem, daqui ou de lá, mesmo!

   Acorda o cara saudoso, por favor.
   “Senhor, é sua parada” diz alguém.
   Que nosso exílio non tem mais raiz no!

   Se doutro lado da terra soubesse dos teus gostos...
   ...vai sumindo que não sobra nem a saudade e a cor.

   Uma memória líquida se inventa, chame-a glória imediata!
   E sem a memória não existe a saudade no exílio. Não existem padrões de relação.
   Virando a esquina ou noutra terra vive alguém. Ali na casa do moinho.
   Não faz referência à coisa alguma, mesmo!

   Esse romantismo saudosista me enoja.
   E nos faz esquecer do gosto limpo de ti, das coisas,
   Do bonde, do elixir do que escorrega e nunca foi.

   (junho 2009).