NEVOEIRO LISÉRGICO SOBRE POLVO VOANDO
COLEÇÃO ALICIA NO PAÍS DA LISERGIA
TENTÁCULO PRIMEIRO: NEVOEIRO SOBRE O POLVO VOANDO
por trás das nuvens brancas claras de
transparência transpassadas por luzes
contrastadas vindas das sacadas de um prédio azul branco laranja entre muitos outros edifícios que consumiam a
visão de um universo embebido e perdido em tamanha névoa que consumia toda
matéria em sobra só o céu em extremo escuro granulando todos os
feixes das luxes nos postes nas esquinas silenciosas no abandono do breu
lúgubre de borrão impressionista em sua propagação pelas finas gotas de água
que nos ares dançavam sem serem atrapalhadas ao redor das fontes de luz
iluminadas lutando com uma lua tímida em um espaço de céu adiante em laranja avermelhado quando o sol se consumia pela
terra caindo por detrás de uma montanha de um vulcão verde mágico explodindo
toda sua beleza em rochas fumegantes amarelas que cruzavam por todo o espaço em
seus segredos por debaixo da concavidade da atmosfera do planeta que se mais tempos
passados era um mistério de grandes discussões sobre suas causas e seus devidos
efeitos agora banais na época realizada em seus avanços desenraizados
deixando-nos maravilhados em nada sem explicações exatas de modo a não notar
toda a beleza que congela o tempo na espera que paremos para entendê-la sendo
só observando a magia andando por uma rua em uma certa noite nublada realidade
banal de cabeças que não conseguem perceber na beleza vaga que somente na
concentração pode-nos revelar voando por um céu que jamais existiria em uma
dessas mentes sem brilho de segundos que se perdem no não parado para a beleza
interior de cada coisa num momento de fantasia e cor e sem falar dos sons de
imensidões obscuras que propagam de cada vinculo existencial como nas células
dessa grande árvore com pétalas de lilás e violeta refulgentes até a morte
evocada pelo branco nas bordas das suas folhas caídas empilhadas sobre um chão
de asfalto áspero à visão romantizada que some ao ver de uma carcaça de um
pássaro preto rajado por pontos mais que traços brancos que apodrece no chão florido.
O tempo não se faz somente nos
ponteiros tão quanto na decomposição da matéria
O tempo é movimento e enquanto parado
morro mas antes morto pois nem via árvore que gemia por todas suas entranhas
violadas pelas rajadas de vento que a consumiam toda como um amante que despe
sua ceia de belos seios.
O nevoeiro se abriu e nadando nele é
que se viu passar o polvo.
Aquele homem novo e rasgado pelo
tempo em que se perdeu seguia a passos rasos pela rua nebulosa em determinada
madrugada de um dia qualquer até avistar a bela árvore que se despia toda para
o outono enquanto um pássaro se decompunha em pó próximo à uma de suas raízes
que cortavam o asfalto que se rachava em seu caminho.
Sentou aos seus pés e no céu viu
surgir à coisa.
Viu os tentáculos primeiro.
Curvavam-se para frente e com beleza
eram arremessados para trás de todo o corpo grandioso dando assim força ao
molusco que se projetava por entre o oceano fantástico das nuvens brancas de
fundo roxo pelo resto do céu ostentando sua cabeça enrugada e altiva por sobre
o edifício do número duzentos e vinte um da rua Solar dos Moloks.
Suas garras dançavam sensualmente
acariciando as nuvens ao seu redor.
Penetrava-as deixando atrás um buraco vazio.
Nevoeiro sobre o polvo que voava.
Voava pelo céu de fumaça e se fazia polvo.
Via-se ao centro os olhos negros de
esperteza do polvo.
Olhos da escuridão da memória do
infinito universal dos céus que trespassou.
Pelo espaço passou capturando motivos
para se fazer nadar sem mais uma gota de lenta escrita e pressa por sobre seus
tentáculos de letras. Tentáculos capazes de sumir por diversos universos para
compreender o infinito escuro que é o não conhecer.
Era isso que trazia aquele animal.
Idéias agarradas sobre seus tentáculos.
Idéia de todo um tempo volúvel nos
séculos que se foram.
O polvo congelou pequenos pedaços de
tempo e os guardou para os universos seguintes.
E como eles vieram?
Em versos.
Foi então que o homem, ainda sentado abaixo daquela árvore vistosa acima do pássaro fedendo à carniça abatido em seu ninho por um chumbo fulminante deixando dois filhotes ainda com fome à espera dê quem lhes de abrigo, viu no céu o grandioso animal curvar-se rapidamente mergulhando através das nuvens para entrar pelo quintal de sua casa.
O homem correu e, passando a chave no
portão de entrada, ainda viu o último dos tentáculos atravessar a fresta da
janela escorrendo por sobre o cubículo de vidro, o viu entrar na sala seguindo
por cima da mesa de jantar derrubando um lustre sobre o chão de madeira, o viu
seguir pelo estreito corredor com duas lamparinas amarelas que mais pareciam
velas, o viu entrar em seu humilde quarto e lá ficar parado no teto, flutuando.
O homem entrou assustado em seu
quarto, olhou bem dentro dos olhos negros e molhados do animal enquanto seguia
ao seu lado pretendendo ver seus tentáculos que flutuavam como uma onda
propagando no ar e quando ia principiar a terminar a primeira estrofe do primeiro verso
colado no bicho, o danado lhe soltou uma fumaça negra e espirrou direto para
fora do quarto e do mundo para nunca mais voltar.
O homem ainda correu por entre a
nuvem negra e chegando ao quintal viu o molusco subir para o universo por entre
os galhos de uma árvore verde do jardim.
Sobrou-lhe somente a primeira e única
estrofe do paraíso.
Se o vago negro ao partir
o vago ser não pôde sentir
o saber a que me fez liso
um exilado do paraíso.
(julho.2004)
O homem
deixou-se cair em sonhos.
E neles vislumbrava
o animal liso juncado por
suas intempéries oníricas.
Libido dentro de
uma lesma perene e inerte nubla quebrada vertendo sangue quando deseja gozar
esperma explode em imagem da besta de um santo sacro venha ver-me compor pedia
a prece apaga duma memória lúgubre remota fração do medo monta a ceia e cerra a
seiva saliva quanto suor jogado na pele na luz clara vinda de alguma maturidade verte escura escova teus ossos
abaixo dos lazeres frívolos do sexo enquanto deferia
descerrava em um blues solitário solstício de sono agora lento agora movimento
irrisório sonhos em cicatrizes azulados por antigos móveis azulejos cabeceira
antiquada antes fossem livros velhos livres a visão da carniça vermes esvoaçava
a partícula da coisa mole seus lábios ainda no lustre entrou o sonho numa
liberdade e transcendia a vagina ao lado o medo da coisa negra e pastosa que
voava ainda pouco seus tentáculos de molusco contanto ao mesmo tempo o
alabastro o chamava caminhar na escuridão aquosa e abriu-se cor vinho rosa
vermelha morte duma manhã ainda por vir esterco de outro espírito mente agitada
queda num buraco negro sem fim o começo do sono morto
o sonho da noite não apagará os medos do antigo
o tempo não se faz somente na carne que seca a seiva
ainda fresca
baba nas pernas inermes o gosto do passado. Morte e
reencarne.
No meio do sonho
o homem com seu sorriso tímido a racha mole via em sua frente lambo amanhece
diz a frase bonita sobre ter ido vê-la não amanhece ambos somem para o infinito
desconhecido sentados numa escada antiquada de azulejos podres e rimos da
planta estranha aparece alguém atrás deles suas mãos as dela sumiram por entre
esses cabelos que quase amanhece palavras sobre música árvores planos de vida
coma a mexerica muito boa para sarar da cerveja colhida no mesmo terreno onde
outra árvore grande parece nos abraçar erguendo-se por sobre nós com o fundo do
céu de nuvens dispersas em pequenos quadrados de algodão vamos embora voando e
ligando de madrugada para falar da lua e de um lanche grande na geladeira os
vemos deitados no chão tenta chorar por estar tão perto e tão distante feliz ao
lado contando coisas que talvez só ela saiba e que são tuas mais belas verdades
dormir juntos um lustre com uma luz muito bonita pendurado um xale brilhante
acorde e estão abraçados sem palavras ela diz que está gostoso com sua fala
contida para dentro e o homem acaricia seu corpo carinhosamente ela se vira
para seu lado e deve estar o olhando porque brinca com essa mão que abre os
seus olhos e se beijam.
Libido de fraude
de quem adormeceu e borrou-se todo nas pernas e a coisa negra ainda voa pelo
aposento não amanhecido.
Uma linda manhã
nebulosa começa surgir na lesma vê o brilho
Passou como a
fumaça espessa que some por fora da janela parou o tempo e fez ficar real tudo
que era imaginação. Gozo.
O homem recobra
algum sentido ainda lúcido pelo molusco.
Rebusca no leito
o diário do que fomos. Otário e sobre a cabeceira. O lê.
Uma manhã comum em Sanca. Entramos
neles.
Alguma coisa
corre por dentro do seu cérebro uma maratona rítmica de fluido poético somente
um estudante transitando de um lado ao outro dessas orelhas acorde vendo a
nuvem negra que nublava o único e importante poético
mainframe e então abra o dia indo até a padaria comer um pãozinho na chapa e uma jarra de suco de laranja
grande mesmo mas grande mesmo de deixar você satisfeito mas pecador
por querer mais
mesmo tendo gostado do café da manhã ainda tem muita poeira nesse seu céu de
nuvens de letras e luz da mais pura leveza do escrever então fume uma bucha
ao voltar para o
quarto irá passear com a baleia essa cadela mas desista para ir ao cinema ainda
não foi a partir de agora esse instante é só a vida porque a estamos vivendo
enquanto termino de escrever espero que o seu dia seja muito discutível perante
as leis do amor porque precisamos produzir
tudo que move o mundo
são suas guerras e suas drogas.
O sonho não o livra da folia e da vontade. O homem sucumbe.
SEGUNDO
TENTÁCULO.
E agora observe
o formato estético que tem ao lado
bem ao lado do
texto veja você as linhas não terminam no final
do papel porque
não está formatado o padrão e elas formam um desenho
vejo algumas
montanhas ondas do mar
um cara mau um
pintor com bigodinho e tudo Ah ontem também viu a sua Alma
falamos disso
naturalmente porque o homem já esperava acontecer vamos narrar tudo para que
ele possa se lembrar daqui uns anos oitenta talvez
estava na rede
do quarto que também tem um bar é um varal de textos que me lhe é como um polvo
preso no teto
mas narra o
quarto em outra vez o homem estava ouvindo o white álbum ou sgt. pepper`s
lonely hearts club band ouve pixies, where is my mind uhuhuho e então cochila e
quando está no êxtase que são os minutos do inicio do sonho que liberdade
maravilhosa ela nos dá
assim quando
volta vê vendo a tela do computador a bandida da sua alma Ela está pretendendo ser
compositora e então estava lendo a música e.
já está se
armando para enfrentar a sua própria alma quando ela começar a o forçar
aprender música
Utilizando-se de
toda a sua artimanha
Sua mente o
massacre do inútil corpo materializado.
E agora vamos ao
cinema.
-22/05/2004-
Acordamos.
TERCEIRO
TENTÁCULO
E quando andou
por sobre os versos?
Nos sonhos. Foi
no ultimo dia que estava lá. Com a coisa negra. O homem caminhou até a entrada
de uma corredeira criadouro de abelhas de repente estava andando por sobre as
pedras nas quais leu o diário de Klee: rodeado de água e falando um monte de
frases versadas como um repente notou que a beleza da música e de toda arte
está no não pensar porque as frases vinham em forma escutava a forma do som no
final de cada frase e a melodia ia surgindo sem que pensasse nas regras da
sintaxe foi um momento iluminado e após tudo isso que cantava andou por sobre
um terreno arado enquanto via uma bela árvore em sua frente Lembrou que os
versos vinham do movimento de se arar a terra o vai e volta E assim andou por
sobre os versos enquanto as musas subiam sensualmente se concretizando
erroneamente nos galhos daquela árvore Errado porque sabe que eram as musas e
vai até desenhá-las.
Lembra-se que na
noite anterior fora convidado
para trabalhar na fábrica.
Acaba indo ver.
Conhece a senhora que cuida dos teares desde os 12 anos de idade Conhece
algodão como água Um dos senhores o olhou meio estranho deve ter achado que eu
era o outro rapaz que foi lá trabalhar Algum imaturo com grana e foi menos
orgulhoso e recusou o trabalho.
Mais uma lucidez
enquanto o molusco mordia o seu pênis.
O homem viu o
outro homem com a mulher dançando no campo gramado ela parecia uma coluna
espiralada de fumaça voando direto para o céu enquanto ele a rodopiava Eles
continuaram sorrindo aquilo que você não participa também se narra e o homem
sentado atrás do balcão de flores não comemora os mortos com flores alimenta
peixes dentro da fonte no canteiro das hortaliças o que você não é também vive
e cara Anjo do lixo o geral lá fora está próximo ou distante das tuas
prioridades?
TENTÁCULO QUARTO
Nota que
enquanto dorme a sua alma se perverte seduzindo as outras almas quase igual ao
dançarino e sua mulher fumaça e ninguém imaginou o quanto o velho curtia a suas
plantas enquanto o jovem funcionário comia sua filha de belos olhos azuis no
quarto dos fundos E ainda não sabe o quanto do mundo é mundo os seus pais viam
menos tv que vocês A sua alma está rompendo uma calçinha de seda no paraíso
pondo sua mão inteira sobre sua vagina e dizendo Te Amo por isso tudo Só isso
tudo que não sabe bem se toda a humanidade se esqueceu dentro de todas suas
malditas drogas.
O homem sente o
cheiro das árvores molhadas a chuva cheira e não molha chovia enquanto eles
dançavam Veja as coisas todas como elas são fora da praticidade e da velocidade
que impomos ao redor.
agora são 16 e
23, talvez umas 17, 17 e meia o sol vai começar entrar pela janela do quarto e
iluminar com belos fachos de luz ouvindo The Clash no momento London Calling e
temos que entendê-lo
QUINTO TENTÁCULO
Interbio na
Federal. Uma nobre festa.
E o mundo é
feito em camadas e as camadas se fazem nos tons de cores e as luzes têm as
chances de o fazer brilhar mas sem que seu brilho se torne egoísta e o torne
arrogante Se bem que é difícil fazer com que as pessoas entendam o que estava
pensando agora sem o parecer egocêntrico ou egoísta Sentou-se em um pico muito
bom Um pico com uma moça que conheceu um dia ontem O nome dela é Cá, Cá, Cá não
sabe de que mais é cá A gente divide um belo instante juntos estamos vendo a
estrada da Federal com todas suas cores e árvores e dissecando nossa memória de
viagens pelo infinito de nossos cérebros você compraria uma caixa de tempo e
espaço? Eles vendem porra o lance é forte.
O homem lê a
mente das pessoas o que é muito perigoso e o ocidente está aprendendo que
dentro de nós existe um espírito quando seus pés sobem até o intimo você tem
que voltar porque céu é lugar para anjos e não para nós essa geração é
descrente o suficiente para fazer o movimento recomeçar o mundo precisa mover O
mundo vai surtar O espírito nos está nos pondo em nossos estranhos lugares E
sabe por que não podemos dizer muito do que pensamos porque se eles
despendessem um por cento dos brilhos que tem naquela cabeça alguém poderia
querer os matar para tentar encontrar algo por lá dentro nessa mente o tempo é
relativo lá por dentro
O tempo depende
do nosso sentimento.
O homem vê as
árvores e entende que as árvores são os seres superiores que
existem pois crescem no mesmo lugar pacientes e se fazendo belas para nossas
vistas.
O molusco voa.
É somente ser o
presente ao lado da sua presença.
Possuí-la com
todos os seus segredos é sua verdade de agora em diante
De antes de
beijá-la e tocar suavemente cada concavidade do seu corpo.
O homem quer
saber os seus sonhos.
Na parte que
puder, fazer o possível para torná-los concretos.
E o dia vai
amanhecendo e o azul entrando pela janela.
Sinta-se em
casa, entre e aproveite!
Por aqui é lugar
para todas as cores que vagam no espaço.
E enquanto
amanhece ele pensa em vender a cômoda antiga dos seus avós para conquistá-la.
Quem sabe será
só você por dentro e por fora.
Aquele ser não
vive mais ali não baba mais por aquele teto não se enche mais daquele sexo sujo
e não guarda mais poemas em seus tentáculos. Prende ainda aqui os sonhos desses
universitários.
O homem ainda
correu por entre a nuvem negra e chegando ao quintal viu o molusco subir para o
universo por entre os galhos de uma árvore verde do jardim.
Sobrou-lhe
somente a primeira e única estrofe do paraíso.
se o vago negro ao partir
o vago ser não pode sentir
o saber a que me
fez liso
um exilado do
paraíso