quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ICs preenchidas por un delírio lúcido

PENSADORES E PENSAMENTOS NA FACULDADE
2002 - 2004



Iniciações Científicas contendo expressionismo de mais para terem sido consideradas como tais



O ano que pirei em depressão: mais ou menos, agosto de 2002.

Depois disso, tudo.

(relato lembrado na estruturação dessa monografia - final de junho, 04)


                      andy warhol`s sigmund freud


FREUD

(1 semestre de 2003)

matéria Filosofia da Arte. por Telma Lessa
seminários sobre Freud

... não há dúvida que os estudos ligados à psicanálise consistiram em uma grande descoberta científica no século passado. As teorias de Sigmund Freud e de outros pensadores que pretenderam entender a complexidade do inconsciente e da psique abriram caminho para um campo de estudo na Ciência que acabaria ligado ao pensamento filosófico, para se tornar sustentável e aceito, pois muitas das conclusões apresentadas por seus pesquisadores não podem ser demonstradas, deduzidas formalmente ou, até mesmo, empiricamente...
... com a elaboração da pesquisa tentarei esclarecer de um modo geral um pouco mais do processo de manifestação do inconsciente nas obras artísticas, contribuindo com um entendimento maior dos estudos psicanalíticos em relação à representação estética. Desse modo, pretendo demonstrar e compreender uma determinada sociedade contemporânea à um autor que nos mostra seu modo de entendê-la por meio de sua obra.


A Arte como Terapia

... A arte, em sua essência criadora natural, liberta o homem interna e externamente e, involuntária (inconsciente) ou voluntária (consciente), se torna uma força revolucionária que ao mesmo tempo é contra e a favor, no que se trata da formação da civilização. Eros prevalece sobre o princípio de realidade. O homem ganha a possibilidade de “jogar” com essa realidade como afirma Marcuse: “Eros redefine a razão em seus próprios termos. O que é razoável é o que sustenta a ordem de gratificação”.
Dessa forma, a arte real, se definida como aquela que apresenta um valor humano, pode ser nomeada como a Arte Terapêutica.

A Obra

O que é a arte, se não, uma representação da incompatibilidade subjetiva com o real.
O sujeito que consegue representar essa incompatibilidade em uma obra,
É um artista?

Para ser um artista, é preciso coragem.
Para que entendam sua representação, talento.

Uma obra de arte se faz na solidão.
A solidão da distância do olhar, a solidão da incompatibilidade.
O olhar distante.
O olhar sozinho do artista...

Eu tenho sido a minha obra.
Minha representação de tudo que não me agrada.
Agora, tento usar o papel e o lápis.

Eu represento a incompatibilidade no meu modo de ser.
A verdade do que eu sou, me apareceu na dor.
A arte, um meio de trazer da solidão, vida.




carl gustav jung



JUNG

setembro 2003

Seminários sobre Jung.
coordenadores: Georgina e Bento Prado

Após ler “O eu e o Inconsciente” de Jung: “personalidade mana” ...


JUST ANOTHER LANGUAGE
JUNG... twenty four/ seven/ two hundred three

The sun is shining different today
I know, no money can pay
This perfect moment is the union of some other days
Something I didn’t learn to express
But different of you, I’m trying to press
In this peace of paper, with this jokes of words
Just say I’m happy.
And you could, too. Just depend of you.
“All you need is love”…



(reunião e finalização dos textos que entrariam em relatos de uma alma ausente).



Siegfried Woldhek`s Zygmunt Bauman



BAUMAN

outubro de 2003

INTRODUÇÃO

“É nesse sentido que pós-modernidade é, para mim, modernidade sem ilusões.../Tudo está agora sempre a ser permanentemente desmontado, mas sem perspectiva de nenhuma permanência. Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáfora da” liquidez “para caracterizar o estado da sociedade moderna, que, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade de manter a forma.../ É verdade que a vida moderna foi desde o início “desenraizada” e “derretia os sólidos e profanava os sagrados”, como os jovens Marx e Engels notaram. Mas enquanto no passado isso se fazia para ser novamente “reenraizado”, agora as coisas todas- empregos, relacionamentos, know-hows etc- tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis”.

As proposições acima são de Zygmunt Bauman (1927), sociólogo polonês radicado na Inglaterra desde 1971. As idéias expostas por esse pensador, que serão utilizadas nesse ensaio, foram publicadas em uma matéria realizada por Maria Lúcia Garcia Pallares-Burk[1], publicada pelo caderno Mais, Folha de S. Paulo, edição de 19 de outubro de 2003. O título da matéria em questão é: “A Sociedade Líquida: Zygmunt Bauman defende a literatura como forma de compreensão da condição humana e ataca os muros da academia e a alienação dos intelectuais”.
Diria que minhas ambições também condizem com as de Bauman, quando este pretende com sua sociologia “amena”, sem intelectualismo, atingir um público composto de pessoas comuns, se esforçando por serem humanas, em um mundo cada vez mais desumano.
Meu esforço será exposto nesse projeto.

JUSTIFICATIVA

UM PASSEIO SOBRE A MODERNIDADE LÍQUIDA
Essa visão de mundo, que certamente deve ter sido levantada por pesquisadores, e descrita por Bauman como uma estatística geral da população de uma época recente, e não seria muito dizer que se trata de nossa, a que atualmente vivemos, me faz pensar muito em juventude, nas mudanças que ocorrem na vida de alguém que está passando para a idade adulta com toda sua ansiedade, medo e incertezas do futuro. Penso também em uma doença que apresenta muita dessas características e que é vista como um grave problema social no futuro e, já bem atual, que é a depressão (a angústia).
Apresento, abaixo, dois de meus textos que eu acredito mostrarem um pouco dessa idéia de alguém que procura algo no mundo, algo que lhe dê alguma estabilidade, uma segurança para seguir em um mundo em que, em poucos segundos, tudo pode se perder e, nas palavras de Bauman, exemplificando o estado de vida pós-moderna: “O chão onde piso pode, de repente, se abrir como num terremoto, sem que haja nada no que me segurar. A maioria das pessoas não pode planejar seu futuro por muito tempo adiante”.
Para viver em uma sociedade com esse modo de pensamento, ou sendo você próprio esse pensamento, é provável que se imagine uma ilusão, uma fantasia, ou se aceite tantas outras que existem na vida como modo de sobrevivência, eu diria, como modo de escapar do ‘extermínio’ à sua volta, garantindo a sua própria. Como essa ilusão, em sua essência literal, é de extrema liquidez, é provável também que você viva e comece a valorizar pequenos momentos da vida em que se consegue esquecer de tudo que está ao seu redor. Vejo isso tudo como uma meditação ou uma arte ou, então, em um casal de apaixonados que ainda não profanaram o amor e vivem um para o outro sem precisar do mundo.



Momento
Então...você quer saber o que eu sinto nesse momento?
Bom, eu sinto uma liberdade vaga. E,
sei que essa liberdade e sensatez irá acabar No momento
que a primeira pessoa que quiser cruzar
essa barreira entre o eu sozinho e a vida
que me cerca o fizer.

Sim...aí toda minha sensação de loucura se vai,
pois aí....aí eu tenho que entrar no jogo deles.
Fingir que eu vivo sem enxergar
todo o mal e a ignorância que existe
à minha volta,
dar a volta
e viver.

Assim eu me torno um humano.
Deixo meu lado louco, de lado.
Se é que a humanidade
deles é sensata?,
e vivo.

Vivo na loucura de achar alguém que pense dessa forma
faça com que eu veja que não existe o eu sozinho,
existe o
nós.

Onde está você?



Penso em nada.
Nesse nada,
Mais que tudo.

Aquilo tudo em que eu penso, agora,
Nada!

Quando penso em tudo...
Certa
Não é nada, não...
Mente
Não vejo nada.

quero ser nada!
tendo tudo:
para que o todo?.
quero o todo
sendo nada ao lado do tudo.

Ao todo, quero tudo e o nada.


UMA CONVERSA SOBRE OS INTELECTUAIS
“As classes educadas não estão mais interessadas na tarefa de ilustração e de elevação espiritual do povo. Os intelectuais pararam, em grande parte, de se definir pela responsabilidade que têm para com “o povo, a nação e a humanidade”.

A obra que apresento abaixo é um conto fantástico que satiriza um pouco dessa ansiedade dos intelectuais pelo saber, esquecendo-se que, por trás de muita sabedoria pode, e deveria existir, fantasia e espírito humano.

De Como As Meias da Sabedoria Choveram do Céu

Houve certo dia no mundo em que todos os sábios resolveram conversar com suas meias.
O evento ocorreu do modo que aqui vos narro:
Os sábios recusaram-se a compartilhar suas fabulosas; sonhadoras; idealísticas idéias com uma boa parte de pessoas egoístas que nada entendiam além de sua medíocre visão de mundo.
Aborrecidos, resolveram que o melhor a fazer era compartilhar de seus conhecimentos com suas meias.
Conta-se que tudo começou quando um dos maiores entre as maiores sapiências observou uma criança falar livremente com uma de suas meias.

Parece estranho?
Pois, mais ainda é o fato de, dias depois, uma ventania direcionada por uma força maior ter feito com que todas essas meias subissem ao céu e lá permanecessem.

Agora vos digo, pessoas necessitadas do mais puro chulé da sabedoria:
Corram!, corram, antes mesmo de terminarem com a leitura desse humilde relato.
Corram, pois todas as meias da sabedoria estão chovendo do céu... Bem no seu quintal...

Mas há de se saber,
As meias têm suas regras fechadas.
Não cheguem apressados; afobados pela ânsia do saber.
Caso assim fizerem, as meias da sabedoria voaram para os céus novamente.
Vocês devem seguir pequenas regras antes de se aproximarem.
Uma delas, talvez a mais importante, deve ser seguida sem restrições,
Ao pé da letra (com ou sem meia),
Da letra que aqui vos digo, vai-se a regra:

“Antes de falar com as meias da sabedoria, favor passar o talco anti-higiênico que previne o ódio, a falta de fantasia e a falta de amor da humanidade. Caso contrário, volte com seu pé sujo e siga outro caminho”.

ENFIM, A LITERATURA

“Devo começar lembrando que meus professores na Polônia..., acima de tudo, consideravam os romancistas e poetas como seus camaradas de arma, e não como competidores e, muito menos, como antagonistas’’.

Continuando sua resposta, Bauman diz ver a sociologia como uma grande narrativa que tenta reinterpretar a experiência humana de estar no mundo. Experiência tal que pode muito bem ser encontrada em narrativas não científicas, romances, contos, poemas de um determinado escritor, ou qualquer outro ser humano que se proponha a “lutar pelos seus controles e destinos individuais” de modo a oferecer um “insight mais profundo” sobre como um modo de viver foi se formando em uma sociedade, ajudando, desse modo, no entendimento de outros seres humanos.
“...me lembro de ganhar de Tolstói, Balzac, Dickens, Dostoievski, Kafka ou Thomas Morus muito mais insights sobre a substância das experiências humanas do que de centenas de relatórios de pesquisa sociológica....aprendi a não perguntar de onde uma determinada idéia vem, mas somente como ela ajuda a iluminar as respostas humanas à sua condição, assunto tanto da sociologia quanto das “belle lettres”.

No texto abaixo, “O Barco”, que é parte de um poema/conto que estou escrevendo, está relatado o estado de alguém que acredita muito em suas ambições, idéias e ilusões do mundo de sua imaginação, mas que percebe que mesmo ela é limitada por uma realidade que só existe por quem tenha um porto seguro, um rumo, que é aquilo que nossa sociedade encontra nas suas crenças, no seu trabalho, enfim, naquilo que lhe é sagrado. Tornar esse sagrado como algo profano é tirar o chão de alguém, tirar-lhe o único significado que lhe apóia e motiva a acreditar na vida. Algo descrito desse modo torna-se muito parecido com as proposições de Bauman, em que ele justifica seu interesse pela obra de Jorge Luis Borges (1899-1986), que cito abaixo do meu texto.

O BARCO

Imagine a imaginação como a um barco.
Acredite em tudo no nada e sente-se para ver seu barco que naufraga
Sem nem mesmo perceber o marinheiro que ao leme draga
Procurando um sentido no mar revolto
Para não seguir sempre solto.

Sou só um pequeno barco que tendo um oceano na cabeça
talvez mereça,
Um leme.


“O que aprendi com Borges? Acima de tudo, aprendi sobre os limites de certas ilusões humanas: sobre a futilidade de sonhos de precisão total, de exatidão absoluta, de conhecimento completo, de informação exaustiva sobre tudo; sobre as ambições humanas que, no final, se revelam ilusórias e nos mostram impotentes”.

Tenho tentado solidificar meus sonhos tornando-os um trabalho responsável, vendo-os como algo que não exista somente para mim, mas como uma obra que traga um pouco mais de humanidade ao mundo. Alguns dos meus trabalhos não são essas verdades todas que trariam benefícios reais a quem os lê. Meus primeiros textos são de alguém que lutava com o mundo e consigo próprio para sobreviver. Eles trazem essa revolta. Mas tenho apurado minhas narrativas, vejo-a, a escrita, cada vez mais como uma arte de beleza e pureza que sobrevive no meu imaginar. Estou aprendendo a pensar mais nesse aspecto benéfico do que posso ser e escrever, esse aspecto que a arte me traz. A escrita me é um estado de alma e, para escrever bem, tenho que mantê-la bem.
Não pretendo, com o modo que escrevo, parecer-me demagogo ou impor alguma condição que não a mim mesmo. Pretendo, com o modo que escrevo, ser-me verdadeiro. Acredito que minha verdade possa ter valia para outras pessoas e, somente poderei mantê-la, se conseguir melhorar o modo como tenho vivido, melhorar minha alma.
Enquanto escrevo essas linhas, encontro-me acreditando novamente em meus sonhos, na essência do que sou, distante de uma realidade que me prejudica, uma realidade que não me permite tempo para imaginar. Então, a única imposição que me faço é que esse projeto, esse estudo, é uma grande parte do que preciso e do que acredito para minha vida e, se a instituição não o vê desse modo, então ela não me é boa e, se ela não me for boa, devo encontrar uma que seja, ou viver sem nenhuma.
Termino com duas citações desse pensador, Zygmunt Bauman, que acabei lendo por haver estado, em um domingo qualquer, sem pensar em contas de banco, seminários; compromissos da realidade, entre outras tarefas mais da vida cotidiana.

“...fora dos muros da academia os romancistas desfrutam da liberdade...Note que os dois cientistas sociais da modernidade realmente interessantes e ainda hoje extremamente tópicos foram Karl Marx (1818-1883) e George Simmel (1858-1918)...ambos eram free-lancers e nenhum deles ensinou na universidade!”
Essa abaixo, em especial, me inquieta bastante.
“Aqueles que embarcam em uma vida de conversação com a experiência humana deveriam abandonar todos os sonhos de um fim tranqüilo de viagem. Essa viagem não tem um final feliz – toda sua felicidade se encontra na própria jornada”.




O EU ATUAL
ATUAL CONSCIÊNCIA DA ESCRITA

junho de 2004

ONDE ESTÃO AS ABELHAS?

Escrever me é sempre segredo
É encanto, a alma respirando sem medo
Enquanto tento tanto descrever beleza;
Escrever a certeza do não certo
Pelo incerto caminho das letras que seguem
Como um pássaro voando do ninho. Entreguem
Minhas penas sobre o pergaminho!

Não mais delas preciso para voar
Pois dessas letras se faz o caminho
Daquele que escrevendo e pensando
Só pede em segredo (talvez voando):
Escrever; escrever; escrever e amar...

No escrever não se vê tempo
É só o que sinto nesse momento;
Vontade que esse maravilhoso Nada
Nade; navegue; se junte ao mar
Formando o oceano que se propaga
Pelo Mar das Letras que não se apaga
Na sua cabeça.

Já posso ao longe ver a peça.
Vocês são convidados. Joguem os dados!

Convido-os a abrir as cortinas
Por trás, cada texto trás uma sina
De quem não pede, além mais
Lêem; lêem; lêem. Vêem a paz
Por detrás desse humilde véu.

Cada papel contém um mel
Onde estão as abelhas?
Voando; sonhando; escrevendo
Por baixo das telhas !!!
(A.C – 10/03/2004 – 21:35:25s )


Foi-me dito que seria interessante começar a datar meus textos, dividi-los em temas de idéias análogas para que pudesse elaborar um ensaio filosófico sobre o processo de criação dos mesmos. Aceitei fazer de bom grado pois sabia que era um exercício que só me acresceria conhecimento e aumentaria minhas possibilidades de estar divulgando meus primeiros trabalhos nesses primeiros anos em que tento me firmar como alguém que gosta de escrever, portanto, seria bom planejar alguns anos próximos de vida próximo a esse ofício de grande beleza e, espero ainda, satisfação pessoal e profissional. Para tal, se fez importante separar esses trabalhos que realmente fossem de valia literária pensando na possível elaboração analítica e objetiva acima de seus significados, menos lingüísticos e mais simbólicos de sentidos que me são mais exatos por tê-los criado, sentidos que pretendo deixar mais entendíveis para os possíveis leitores que se interessem em lê-los. Digo, desde de já, que o texto deve sair assim mesmo, bem pessoal, cheio de afirmações sobre seu autor, não porque eu tenha um apreço por mim, mas somente porque acredito que se trata de uma análise intrinsecamente subjetiva com o intuito de tornar-se bem objetiva para um determinado estudo no campo filosófico, e esse campo é bom nesse aspecto para meu estudo, porque acho que não tem fim, definição, assim fico livre para escrevê-lo do modo que me parece dar vida a questões que nos fazem pensar; amar o pensamento por toda sua estrutura indeterminada que fica um pouco mais esclarecida quando se disserta de modo eficiente sobre ele. Acho que esse é o único modo eficiente que consigo para tornar-me entendido, ao menos nesse momento da minha vida: dissertar sobre mim mesmo. Ao menos até que alguém me oriente esse não ser o caminho mais correto se eu quiser tornar-me um estudioso, observador do mundo. É que realmente eu tenho me observado bastante, e isso a um extremo que pretendo esclarecer e tornar interessante de ser conhecido por alguém mais além de mim. Aliás, é isso que as pessoas do meu tempo tem feito: olhando-se compulsivamente, de modo, que elas estão mais preparadas para entender as razões mais essências daquilo que quero falar que estão longe de ser eu mesmo. Essa auto-análise me fez aceitar a grandeza do mundo que nos há por dentro, um mundo desconhecido por entre o pensamento, quem sabe um mundo além do nosso corpo físico, chame isso de alma; inconsciente dentre outros, eu costumo dizer alma mesmo, e por saber que são proposições difíceis de serem generalizadas ao total dos seres; afirmadas como verdades absolutas, contento-me em tornar-me louco ou gênio enquanto aceito que tudo isso valha somente a mim mesmo nesse princípio de dissertação expositiva. Contudo, por ver que não sou o único que o fez, quem sabe desde Sócrates, e por saber que falar de si é em muito falar dos outros, ao menos para quem tenha preocupações maiores que si mesmo, vou continuar no mais objetivo que o pessoal me permitir garantindo quem sabe um futuro e bom estudo científico e filosófico que começo por agora.
Sei que me foi estranho tê-los visto, as poesias; contos; roteiros; início de romance e tantos rabiscos mais reunidos ao meu lado; meus manuscritos e tudo mais que escrevi nesses tempos de Universidade. Isso porque, e espero deixar mais claro no ensaio que pretendo elaborar, eles marcam um processo de evolução humana; biológica (?) grandiosa que estava acontecendo em mim. Evolução de vida; temporalidade, evoluir é nadar contra a maré da normalidade e viver é o único processo que pode realmente nos fazer crescer e enxergar muito do que existe além de nós, portanto, olhar minha pilha de papéis é como ver muito disso tudo concretizado em matéria. Por isso me senti um tanto mal por ver que muito do que vivia, ou o do que não vivi e somente imaginei que estivesse vivendo estava grafado em tudo que fui lendo; em toda alucinação que pudesse existir nesse processo elaborado do pensamento de quem se descobre poder criar com o inexistente e que acaba sendo parte dessa inexistência nascida na alma.
Acredito que é da natureza humana negar; querer não ver o presente recente, (o atual nem mais existe!), e por isso os estudos históricos só são feitos depois da época ao qual remetem com o risco de não serem tão validos e realistas á ponto de tornarem-se matéria para discussão nessa mesma sociedade. É de minha natureza querer mudar o que foi passado. Quase joguei meus escritos primeiros. Então, pensei o quanto estavam evoluindo literariamente meus textos, e assim, estava evoluindo, eu mesmo, como ser que vive no mundo; ser social e que suga muita informação na área que me é valida: arte e filosofia humana. Do mesmo modo que não podemos apagar o passado, não pude destruir meus primeiros devaneios com o lápis e o papel, por mais antigos e antagônicos a mim contemporâneo que me parecessem ao vê-los agora. Na verdade gosto deles como gosto também de tudo que passei pois, se não, não seria o que sou atualmente e bem provavelmente esse ensaio não estaria sendo elaborado.
Irônico, um tanto conformista, mas o que se fazer?, é a vida seguindo com a mesma magia inexplicável que se há na belle arte.
Desde que comecei a enxergar a escrita como um meio de expressão que extrapolava a linguagem técnica de somente comunicar-se, lendo na beleza mística que envolve um belo romance; na magia que certos autores conseguem ao narrar uma personagem; um lugar de um mundo; um movimento contido dentro de um mundo de alguém imaginado, milhares de mundos surgidos do nada a guardados entre folhas, aliás, é sobre meu “nada” e de onde ele possa vir que pretendo dissertar nesse ensaio, comecei a entender que aquela era uma arte, pois somente dessa magia se faz uma arte, e fui apresentado á algo que por algum motivo existia em mim: um pouco dessa beleza intangível da criação que foi instigada pelos bons mestres aos quais pude ler. Aceitei, com um certo receio pelo desconhecido que tudo aquilo me era e que ainda é, nunca vi a arte; inspiração; criação como algo normal ao ser humano, muito menos como um meio de sustento, isso porque nada em que fui criado (família; amigos; interesses pessoais), me levavam a despertar alguma criação artística daquilo que vivia, daquilo em que existia. Sempre me vi como tal, o diferente, mas nunca pensei que isso pudesse ser concretizado em algo que, de certo modo, é bem prazeroso de ser feito e talvez me traga algum reconhecimento para que eu conheça mais pessoas como á mim, e não para ser conhecido por quem quer que queira e que nunca vai se interessar na proximidade humana disso tudo, na pessoa humana que sou. Logo, afirmei para mim mesmo e para quem quisesse ver que eu podia escrever sobre coisas que me eram como eram. Coisas existentes dentro de um mundo um tanto torto de tão belo, ao menos, no meu ver poético de como a realidade me é. Foi o que fiz, mais ou menos de dois anos para cá, agora estou em junho de dois mil e quatro, com quase vinte e dois anos, tentando saber ao certo sobre meus primeiros contatos com a folha de papel. O que me lembro sobre minhas primeiras inspirações são poucas redações, talvez cartas de amor para uma namoradinha, uma carta para meu irmão quando eu estava no colégio e que descobri por agora que ele havia perguntado a minha mãe se havia sido ela que tinha escrito por não parecer de minha autoria. Ela deve ter sido bem escrita, a carta, mas ele nunca me disse nada sobre. Sempre fomos “fechados” em casa com relação aos nossos sentimentos pessoais. Na verdade eu digo que sou até bem verdadeiro e procuro mostrar aquilo que sinto em relação ao que me cerca, (pessoas; coisas; guerras; bombas; detesto política, gosto de religiões orientais e as que se importam com o interior humano; conversas de bar e festas; além de conhecimento teórico em filosofia e apreciação das grandes artes, para mim: música; pintura; fotografia; escrita; cinema em si por unir isso tudo que citei acrescentado do grande valor humano da atuação), mas às vezes não se pode buscar o que se imagina poder sentir em uma realidade distante a sua. Algo bem platônico mesmo. Se não fosse assim, não teria escrito boa parte do que escrevi nesses anos de agora buscando em minha alma uma realidade mais emocionante do que a concreta e criada realidade em que está o mundo acomodado. Na verdade, acredito que minha alma seja aberta, ela quer mostrar todo o sentimento, bom ou mal, que está dentro de mim, quer mostrar-se em vida, e eu, por tentar domar isso tudo negando que havia algo por lá, vi ela explodindo em palavras e poesias para que não explodisse em doença. Não gosto de remédios, ao menos, não os lícitos, e assim, naturalmente ela se mostrou para que eu pudesse nos unir num todo regulado. Acredito na ilusão da regularidade. É minha luta de tantas manhãs, (tardes e noites, também).
Lembro-me de escrever com sentimento, o que mais vale em qualquer criação que se pretenda ser sentida é sentir na essência aquilo que se expressa, sendo dor, amor, raiva, tesão...e deixo aqui que alegria não é um dos meus sentimentos favoritos para criar. Acho que quando somos felizes, vivemos momentos felizes, e esses instantes não nos levam a divagar porque estamos bem e é o que importa sem que isso tenha que ser recriado em poesia. Só que como tenho aprendido nos livros e aulas sobre psicanálise e mais ainda nas almas dos autores aos quais li; vi; ouvi, nesses anos, digo que vou terminar esse ensaio com uma nova filosofia daquilo que é a escrita para mim.
Isso já acontece porque não vejo mais beleza em escrever na dor ou na falta de algo que não me faço ter, por dentro de meu quarto e nas páginas de um livro, por dentro de minha ilusão desmedida que vem sendo domada, então, digo que minha vida está mudando, e então, minha arte está mudando ou não existirá mais se eu não puder expressá-la com um pouco de realidade existencial que vai me levar a conhecer novas alegrias; também tristezas, mas que é a evolução que ambiciono enquanto posso buscá-la nesse grandioso mundo concreto; vivo repleto de mistérios encobertos esperando que algum curioso interesse-se em descobri-los.
O desconhecido é minha vida mais me causa espanto. É preciso lutar contra o medo de viver pois existe um mundo que desconheço que é um mundo vivo, onde as pessoas se relacionam e que aprendem e vivem dos seus fracassos ou vitórias em se relacionar uma com as outras.
Relacionar; trocar conhecimento com algo que é muito maior que teoria descrita, altamente imprevisível, por isso, muito mais complicado de se controlar, mas almejado por mim ao ver todo o mundo que se existe por trás dos olhos de alguém e que se perde se não for desvendado [a sedução é uma das melhores formas para tal, (sempre sou seduzido, o que acaba me desviando de meus princípios)], e mesmo menos tímido, se faz difícil relacionar-me com seres humanos por toda a estranheza que somos. E como qualquer representação, os seres humanos podem mentir. A falsidade torna essa tarefa de relacionar-se, conhecer ao outro na essência, um tanto cruel. Mas, existe toda beleza, também, de humanidade sincera, um pouco encoberta pela poeira da ambição em coisas sem valor real algum, que ainda espero narrar em outras obras por tudo que tiver vivido e conhecido.
Desse modo, espero ter exposto, com toda a sinceridade que pude, alguns fatos que me pareceram relevantes para introduzir meu ensaio. Ambientando-me no mundo em que vivo socialmente, espero dissertar com mais argumentos sobre a estrutura que existe no processo de pensamento, tendo como campo de observação minha criação literária e aquilo que me lembrar de ter pensado enquanto escrevia alguns de meus textos. Esse é o objetivo da elaboração desse ensaio filosófico de literatura comentada. Sendo a linguagem viva em sua essência por depender de um sujeito que fala; se expressa do modo que lhe convém, que no caso tem a mim como autor e observador, acredito ser possível descrever um pouco desse processo técnico; científico da lingüística estrutural que somente existe, ao menos na arte, unido à parte natural, pertencente ao ser humano como meio de transmissão de idéias.
Minha criação literária vem mudando exatamente por eu estar consciente disso tudo, de todo o processo que me levava a escrever uma vida antes de vivê-la. Nesse novo tempo, acredito que eu vá ter que encarar minha criatividade como um trabalho, uma profissão parecida com as outras que existem no mundo. Vou ter que ler tantos outros livros (matéria-prima) e realmente afirmar que tenho prazer em escrever (tornar-me entendido na essência complexa da arte), pois se não parecia, agora, isso tudo me aparece nesse ensaio como uma pesquisa extremamente complexa, de proposições contestáveis por seu caráter pessoal e não cientificista, merecendo dedicação, estudo e concentração daquele que o faça. Trabalho de consciência estudiosa que espero desenvolver no decorrer da crítica complexa e elaborada acima do que sou e que estará aqui descrita.

Relato escrito para entrar no desenvolvimento desse ensaio:

A dualidade da alma:
Dentre os processos estranhos que acontecem em nossa vida, descobrir que você não é somente um corpo físico capaz de tomar decisões e de se controlar totalmente, seja em sentimento ou racionalidade do pensamento, é um dos maiores, se não, o mais complexo dos processos mentais.
A descoberta dessa dualidade concreta entre corpo e alma, e entende-se o que gostaria de começar a deduzir como um dos grandes dilemas que qualquer humano pode notar em seus sonhos ou na vida que lhe existe por dentro, nos seus pensamentos, me foi dada porque era preciso uma auto-regulação dos meus atos. Eu não podia mais negar meu lado sensitivo com toda sua gama de sentimentos esquecidos em minha busca de caminhos que não serviriam para mim na minha relação com o mundo.
Muito da minha produção existiu por causa dessa “guerra” do poeta consigo mesmo, do poeta com o fora de si.
Agora eu tento olhar tudo isso de fora, me ver de fora para que eu consiga elaborar meu texto de um modo realista e objetivo. Se não fosse místico até mesmo para mim que presenciou no “osso” tudo o que tento aceitar como normalidade, parte da evolução de um ser consigo mesmo, mas digo, os extremos foram extrapolados.
Tento todo dia me regular com minha alma, e sei que se ela quiser, ela sempre vai ganhar das minhas pretensões concretas e previsíveis.
Mas, a verdade é que notando isso tudo, minha grande intenção é que nós sigamos juntos. Deve haver um respeito pelo fantástico, por meu imaginário, assim como, devo entender que fantasiar somente não me leva a viver todo o mundo de pessoas e tudo que se tem em volta para ser descoberto.
Acho que depois disso tudo, muito deixado nos meus textos, tenho conseguido manter o ambiente bem calmo por dentro.





Trechos de um ensaio sobre os textos autobiográficos Miscelânea I, II e III, de Federico Fellini

A mentira é sempre mais interessante do que a verdade. A mentira é a alma do espetáculo e eu gosto do espetáculo. (...) O que deve ser autêntica é a expressão que sentimos ao mostrar e ao exprimir. Fellini

Como situar a arte no mundo atual?
Se o mundo passasse por uma guerra mundial, certamente, teríamos grandes obras “apoiadas” nessa tragédia. A fome; desespero; angustia...
Fellini propõe sua visão do viver e criar nessa sociedade contemporânea. Um ver para dentro, dentro de nós mesmos, procurando na metafísica e na espiritualidade um ponto de apoio para descrença, por não ter um “fora”, um mundo, que mesmo inteiramente discutível é de discussão descentralizada, sem um único problema, como uma grande guerra.
Um criar nos mistérios irracionais de nossa vida interna: o amor; a salvação, Deus...
A massa já esta meio “esperta” quanto aos conflitos internos e externos a elas. Talvez estejamos destinados a converter-nos em uma sociedade de artistas, justificando, com essa afirmação de Fellini, o não mais aparecimento de grandes seres que inspiram e servem como novos guias instituindo regras novas ao mundo.

Vivemos em constantes conflitos e estamos sempre revendo nossas regras e “manias”. Não nos é mais necessário que alguém no mundo nos mostre novos modos de agir, mas que faça isso com uma boa retórica e com a beleza que somente os grandes mestres possuem. Essa tornasse a função da filosofia e da arte em nosso meio. Filtrar aquilo que boa parte das pessoas entendem, mas que não possuem meios mais técnicos ou culturais para fazer.

Ainda comentando a arte de nosso tempo, Fellini enxerga a expressão estética amorfa; perdida de seu tempo, (...) diante de um quadro abstrato, de uma antinovela, da pop-art, de um filme experimental, temos um mesmo e idêntico julgamento que formularia, a respeito um homem há dois mil anos atrás.

Para mim, o neo-realismo é um modo de ver a realidade sem nenhum preconceito (...) qualquer que seja a realidade, não apenas a realidade social, mas também a realidade espiritual, a realidade metafísica, tudo que há no interior do homem (...) Uma paisagem, por exemplo, tem muitas dimensões, e a mais profunda, aquela que somente uma linguagem poética pode revelar, não é menos real.




Lacan`s Saussure




relato sobre Lacan.
7 semestre em Sanca. aula ministrada por Richard Simanke

Existem sentidos propostos as “coisas” em uma comunidade, e o próprio termo comum, de comunidade, já define nele que o normal é somente um grupo de idéias aceitas e generalizadas como são
O imaginário não é um erro, é somente a representação própria da subjetividade
A linguagem, qualquer que for, somente é interpretada e nunca explicada. Como a arte! A na ser que o autor a explique se entender de onde ela vem ou como opera seu processo criativo.
Uma sociedade que reconhece a ilusão de seus indivíduos tornasse uma comunidade e essa ilusão é dita como normalidade. Um sujeito alienado não enxerga o símbolo das coisas, mas as vê como elas são para eles, portanto não se enquadra, convive, nessa mesma sociedade.

O simbólico introduz descontinuidade no real. Lacan


Relato antes de começar a ler, fim de junho de 2004, A Sensibilidade do Intelecto, de Fayga Ostrower, antes de me dedicar à pintura, a qual não domino ainda a técnica a ponto de deixar que o pensamento flua sobre a tela sem interrupção da razão:

Sou um pintor que usa palavras!
Ainda não aprendi a pintar, continuo escrevendo.




Blake`s Tiger


11 de agosto de 2004.
Sobre o livro: Escritos de William Blake, Coleção Rebeldes e Malditos
ed. LePM, 1984, trad. Alberto Marsicano e Regina de Barros Carvalho

William Blake nasceu em Londres, a 28 de novembro de 1757 e morreu em 1827 na mesma cidade. Suas influências literárias foram Swedenborg, Jacob Boheme, Paracelso, Spencer, os Elizabetanos, Locke, Bacon e Winnckelmann, além de outros escritos do ocultismo e dos alquimistas.
Pensou em tornar-se pintor mas não pôde pagar pelos estudos dessa arte optando pela técnica da gravura.
Em 1787, já trabalhando com impressão, desenvolve um novo e revolucionário método de prensagem onde podia utilizar todos os matizes de cores possíveis.
Blake sobreviveu, atravessando algumas crises financeiras, exercendo o ofício de impressão e realizando gravuras até o fim de sua vida.
Algumas obras:
O Casamento do céu e do Inferno (1790)
O Livro de Urizen (1794)
América (1793)
Milton (1804 – 1808)
Jerusalém (1804 – 1820)

Guiam-te mais os erros dos sábios
Que as perfeições do otário.
W. B.

Blake por outros autores:

Se falou confusa e obscuramente, foi porque falou coisas as quais não podia achar modelos de expressão no mundo que conhecia.
William Butler Yeats.
Em sua primeira fase, Blake se interessa pela beleza verbal; na segunda, apresenta a ingenuidade aparente; na realidade, uma inteligência madura
T.S. Eliot

Comparações da literatura de Blake com alguns textos de minha autoria:

A Voz do Velho Bardo (fragmento), Blake.
Dissiparam-se as dúvidas e as névoas da razão,
As árduas disputas e os terríveis tormentos.
A insensatez é um interminável labirinto,
De emaranhadas raízes que embaraçam os caminhos.
Quantos ali já tombaram!

O Segredo da Gruta dos Ecos (fragmento), escrito em 9 de fevereiro de 2004.
Alívio sente aquele que ultrapassa
O arriscado caminho do pensar
Com toda sua trama; trapaça
Iludindo para ao homem escravizar.
Baconatã já não estava mais sonhando

Para Deus (fragmento) – Blake.
O anjo que guiou meu nascimento disse
Pequena criatura feita de júbilo profundo
Vá e ame sem ajuda de nenhum rei do mundo

O ainda Eu e o provável fim do Eu em tudo (fragmento), maio de 2004.
quis o universo criar um anjo sofredor. sua função na Terra, como no nome já diz, é sofrer. esse anjo decaído cae agora sofrendo por todos que pode, por aqueles que só viu uma vez na vida, por aqueles em quem acredita estar a beleza do amor verdadeiro que levita em volta de nossas peles egoístas e orgulhosas. por aquele que de tantas falhas se fez bom.
um anjo de vidro.

Comentários sobre alguns poemas de Blake:

Sensualidade e erotismo sombrio contanto belo; energia:
A Pequena Menina Perdida, pág.119:
And her bosom lick, / And upon her neck, / From his eyes of flame, / Rube tears there came;

Filosofia do pensamento; dos cinco sentidos:
The Fly, pág 115.
Am not I / A fly like thee? / Or not thou / A man like me?

Sonoridade; ritmo de acordo com o tema: Spring, pág. 108.
o que vejo em Blake:
Vejo uma filosofia humana de desespero e incompreensão do gênio por trás de suas metáforas e, pelo o nome escolhido para o poema abaixo, ou lendo-o em outros, acredito que Blake se identifique ao Lírio, mas que, como toda alma contundida pela bondade, se vê sempre tendo que se proteger. Compare os poemas abaixo:

O Lírio

A Rosa modesta eriçou um espinho,
A humilde Ovelha um chifre ameaçador;
E o Lírio branco num deleite de Carinho,
Nem o espinho ou a ameaça, mas a luz e o esplendor.
(Songs of Experience - tradução de Alberto Marsicano)

Uma resposta para o Cura

Por que não aprende a paz com o carneiro?
Porque não quero que me toses o velo.
(notebooks Poems and Fragments – tradução de Regina Carvalho)





Fayga Ostrower`Sensibilidade





agosto / setembro (2004)


num dia de domingo
ou de férias na areia da praia
sentindo a boa brisa de dentro do espírito
soprando a beleza que faz ver verdade única que será...

o pai ensina seu filho nadar num mar calmo como piscina
a mulher folheia sua revista semanal sentada debaixo das folhas de uma goiabeira
o belo casal de jovens ainda tímidos tentando se apaixonar sentados sobre uma toalha
o velho transcorre toda sua sabedoria serena de raciocínio calado em uma palavra-cruzada

... caminhando para que os passos passem e levem consigo um ar de vida que nasce
concentre-se e vai ver o campo de folhas negras voando ao vento sem destino

o campo seria seu encéfalo de segredos atrás de seus olhos
as folhas negras, somente palavras seguindo no ritmo desmedido
sopradas ao vento sem destino no emaranhado do seu pensamento

por um tempo é certo
minhas folhas são palavras, enquanto as suas...?

seguindo o universo e tranqüilamente, saiba:
vão crescer no inverno, brilhar no verão, florir na primavera e se fazer eternas no outono.

somente veja o vento soprando por dentro de você e por todo o fora de si
concretize suas folhas para que as plantas se reconheçam num campo infinito de espécies
diferentes nos seus pontos mas perfeitas na proporção que as separam no espaço espiralado.

as palavras em si são pedras mudas.

o dito não é mais palavra em si mesma
porque a palavra é o não dizer pensando ser dito

e,
se você pensar serem essas palavras suas
caso elas ecoem melodias nos seus ouvidos
pela analogia consigo no que és por dentro
e,
esquecendo assim de mim como quem as desfez
transfigurando-as de um grande campo de signos
se,
não (verdes) somente pedras (pretas)
sei,
elas não mais são mudas!

talvez,
possa valer escrever.

1 agosto 2004




Carta aos filósofos.

O texto acima é de minha autoria. Transcrevi-o unicamente para tentar descrever seu sentido semântico para assim concretizar uma breve dissertação sobre o estudo que talvez eu possa realizar. Não se trata de justificar a validade literária desse escrito, mas o que objetivamente sei é que ele é em grande parte uma síntese poetizada do conteúdo pequeno que absorvi numa aula sobre Lacan, mais concretamente na parte da semiologia e dos estudos da linguagem, e também é inspirado em um excelente livro que não me deixa ser objetivo em minha proposta pois, a cada parágrafo, remeto-me a uma nova reflexão. O livro chame-se A Sensibilidade do Intelecto, da artista plástica Fayga Ostrower.
A poesia é uma das formas de me comunicar, talvez aquela em que eu configure a maior complexidade de sentidos, contanto, é um tanto abstrata em sentido próprio e fechado nela mesma. Vejo na poesia (ou na Poética) o caminho que pretendo seguir em uma possível pesquisa, e já me proponho apresentá-la agora para que o texto seja lido com os olhos atentos nesse objetivo. As palavras que concretizam a essência da arte nos comunicam a parte mística, a beleza corrente dentro de nossas almas, e também nos atingem em outras áreas de nossa consciência, sobretudo o raciocínio. A escrita se faz da união do misterioso; desconhecido com o concreto. Creio que um estudo da estrutura, sobre e na criação, de um poema torna-se pois um estudo sobre os infindáveis caminhos de nossa percepção com a possibilidade de objetivar parte desse processo. Cito Fayga, “a percepção, não sendo somente um ato fisiológico mas um processo dinâmico da mentalidade humana, processo ativo e participativo, é uma ação e não uma reação mecânica e instintiva ante estímulos recebidos passivamente... a percepção mobiliza todo nosso ser sensível, associativo, inteligente, imaginativo e criativo, além de reativar certas vivências na memória transfigurando seu conteúdo emotivo representado no ato criador... perceber é sinônimo de compreender, e toda percepção está ligada ao criar... criar é a via prioritária do homem para entender o mundo à sua volta” (pág 73).
É provável que em todos os processos criativos de entendimento do mundo, transposto ao estudo cientifico; artístico, ou vivenciais cotidianos, estejam ligados em seus princípios mentais á percepção humana das formas. Em um estudo simbólico de Augusto de Campos sobre a imagem da serpente que permeia os textos do poeta Paul Valéry, uma das citações remete ao químico alemão F.A KeKulé, descobridor da estrutura molecular do benzeno, dizendo ele ter vislumbrado-a inicialmente em uma imagem onírica de uma serpente comendo a própria cauda, imagem encontrada também nos manuscritos do poeta. São inúmeros outros exemplos de grandes cientistas que remetem ao mesmo insight criativo, imagético e formal, antes de transcrevê-los em cálculos.
Galileu disse que o livro do mundo está escrito em matemática, geometria nada mais é que a medida da terra (de sua própria derivação semântica), e distanciada da regularidade física dos números, as formas de arte são representações do mundo que passam pelo filtro humano, e portanto, mais rudimentares e desacreditadas em estado, mas com o infinito do ser humano em sua essência e talvez não menos verdadeiras.
Quanto ao poema do inicio, o que posso dizer é que ele foi escrito em duas partes. Na primeira escrevi sobre o que estava pensando, sobre as palavras em si e no que dá a elas o poder de se tornarem mais que palavras. Escrevi os versos sobre as palavras sendo pedras mudas e depois para comprovar em escrito que as mesmas podem ter mais que sentido concreto, semântico, acrescentei os versos iniciais que remetem as pessoas para situações que elas possivelmente já teriam vivido em suas vidas. Isso as faz compartilhar em sentimento com aquilo que estou narrando. Sei que boa parte dessas idéias sintetizadas, dessa forma de equilíbrio do texto e outros versos, foram pensados enquanto os escrevia. Estruturei o texto de baixo para cima para conseguir transpor a idéia exposta sinteticamente em uma poesia curta no final que, para se tornar mais entendível, sensitiva, precisava desse distanciamento meu da narrativa, remetendo os leitores a se verem naquilo que lêem. Assim, enquanto não se acabarem os domingos, as praias, pessoas que andam em procura da calma , os pais e os filhos com suas esposas convivendo em família, os casais se apaixonando, e os homens envelhecendo, o ciclo evolutivo da vida e o universo misterioso que cerca isso tudo, minha poesia pode ser válida. Não sei se é claro o meu intento, mas pude comprovar que funcionou com algumas pessoas que o leram.

Nas minhas outras propostas de pesquisa havia elaborado dissertações que correlacionavam meus escritos literários com psicanálise e com ensaios de sociólogos que classificavam o mundo pós-moderno dentre suas características próprias de relações humanas. Vejo-os como bons ensaios para época em que os escrevi e, pelo pouco que estava compreendendo em meus primeiros estudos sobre vida, acredito que com pouca objetividade e responsabilidade de pesquisa. O mesmo que, temo, poderá acontecer ao formular uma nova proposta sem que me seja indicada, por um orientador experiente e com grande embasamento cultural, uma possível bibliografia para formular uma clara hipótese de interesse científico a ser seguida e aprofundada.
Esse texto foi escrito com esse intuito. Acredito haver sintetizado o campo de meu interesse no qual provavelmente eu possa ter prazer e capacidade para pesquisar. Gostaria de elaborar um estudo estrutural da arte escrita. Acabei não dissertando somente sobre o poema do início, o que mostra um começo de objetividade, já era tempo!, e terminando antes do esperado minha argumentação. Acredito que escrever mais só iria acrescentar na divagação da narrativa, princípio básico para formar um filósofo ou um artista, mas que provavelmente deixaria meu texto redundante e me desconcentraria, bem como seus prováveis leitores, do objetivo central do mesmo que é ajudar-me a preparar um projeto de pesquisa de nível de pós-graduação.
Termino com mais uma citação do livro de Fayga Ostrower, para acrescer algo mais à idéia dificultosa que é manter a objetividade dessa possível pesquisa:

“criar, formar, dar forma às coisas não depende necessariamente da capacidade de verbalizar ou conceituar (ainda que possa abrangê-la). Depende, sim, de um senso interior de forma, de equilíbrio e justeza das formas, enfim, depende da sensibilidade conscientizada, ordenadora, significadora do ser humano” (pág. 266).

Atenciosamente, acantiza. e-mail: gutao_ufscar@hotmail.com

(Escritos do mesmo assunto. blábláblá de quem não acredita que é só criar sem ficar se justificando. Tempos de dúvida. Sem dúvida não há mais blábláblá e só beleza)!

A linguagem, como sistema de signos, não é eficiente para expressar a essência subjetiva do sujeito!
Como as palavras em um sistema, em um determinado discurso literário, deixam de serem somente signos, elementos de significado pré-existente na estrutura gramatical da língua, para se correlacionarem criando uma estrutura significante; dando forma na arte da escrita?
O que faz parte da forma existente nas artes que a diferencia da linguagem verbal em si?
Delineando previamente a relação desses dois discursos de linguagem em estrutura, na ordem que classifica uma estrutura:

* Sistema que apresente elementos de composição (palavras)
* Ordem nas relações: (como pode a ordem gramatical ser desestruturada, contanto mantendo um sentido novo; formal no âmbito das artes?)
* Operações de combinação entre os elementos.

“Na Gestalt, a ordem dos fatores sempre altera o resultado. As complexidades resultantes de cada síntese dos componentes e dos relacionamentos constituem parte integrante de cada forma, caracterizando o seu conteúdo expressivo. São esses processos que se devem ser entendidos no ato de percepção e de criação artística...”
A forma é fenômeno da verdade do sujeito. Todo fenômeno seria feito de uma essência; verdade, e uma aparência entendida como erro e ilusão e o imaginário está contido no meio dessas duas partes do entendimento humano.
“Está é a diferença fundamental entre arte e geometria, cujos termos podem ser transpostos em outros símbolos, ou mesmo em outras linguagens, sem alterar o seu sentido...”
“Contudo na arte, as formas relacionadas e ordenadas em uma certa medida de espaço tempo formulada pelo autor, identificando sua matéria especifica, com sua específica característica pessoal, de sua personalidade, tornam-na portadora de um certo sentido sensual e portadora de um conteúdo expressivo”.
“Sendo a percepção o processo mental que constantemente organiza os estímulos visuais, os estímulos são elaborados em termos de conteúdos emocionais e intelectuais...... A noção de complexidade refere-se ao grau de organização de um fenômeno, físico ou mental, ao modo específico pelo qual se interligam os componentes, estabelecendo um equilíbrio dinâmico – um equilíbrio ativo. ... Em vez de uma combinação de fatores aleatórios e desconexos, lidamos com configurações que apresentam um alto grau de integração coerentes – obra de arte. Ao serem complexas as coisas não se tornam mais complicadas, e sim, mais especificas em sua diferenciação, mais verdadeiras”...

“É uma época maravilhosa porque é justamente o naufrágio de uma série de ideologias, de conceitos, de convenções. Nossa sociedade não espera pela força das coisas, ela a constrói. Não há soluções de continuidade... Não vejo nisso o signo da morte da civilização, mas, ao contrário, de sua vida. É o fim de uma certa fase da humanidade. Os jovens têm consciência do surgimento de um mundo novo”.
Federico Fellini, in Miscelânea III
O simbólico introduz descontinuidade no real. Lacan.


Maria Lúcia Garcia Pallares-Burk é professora aposentada da USP e pesquisadora associada do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambrige(Reino Unido). É autora de “As Muitas Faces da História”(ed. Unesp).

Um comentário:

  1. é inacreditável.. somos o mesmo!:

    http://www.google.com/profiles/acantizza

    http://www.flickr.com/people/acantiza/

    http://voyage-bons-plans.aufeminin.com/mon-espace/acantiza

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