Domingo no mercadão
Menino
da porteira
Dobro a esquina e desço a rampa
Sinto o cheiro do mijo e das fezes dos mendigos
Chego até a faixa de pedestres, os carros não esperam
Passo pela banca de jornais (eu li as notícias hoje, oh
garoto!)
O Kibe, para variar, não está na pastelaria
Eu sigo até a tabacaria
A irmã da Silvana me atende
Peço um avulso, irei parar porque voltarei a estudar Kardec,
pergunto a marca:
“Menino da porteira” 0,50 centavos o cigarro
Ando com ele em punho até do lado da gaiola das codornas
Ascendo e vejo a Julia vindo
Cumprimento ela, ela me olha, leva as mãos à cabeça num
movimento embaraçoso,
Percebo que esqueceu o meu nome, tudo flui calmo e eu digo,
Augusto! E ela me pergunta como estou, eu digo que estou fumando um paieiro.
O garoto se despede da cadelinha que ficará para doação aos
choros,
A avó diz que “ Em nome de Jesus ela ficará bem”
Na volta passo no Mig Box e não beijo a Rosália porque estou
suado.
Pergunto se a Léia já acordou.
Vou até o escritório e troco umas palavras de sabedoria com
o Miguel.
Encontro a Léia, ela está varrendo o chão da cozinha.
Chama o cachorro filhote de vagabundo, de um jeito
carinhoso, e diz que já vai fumar o cigarro.
Conversamos dos passarinhos, como as sábias dividem a função
de fazer o ninho.
Me despeço da Léia e vou encontrar a minha tia e madrinha.
Tia Thelma me oferece uma Estrella Galícia zero e azeitonas
Ela me diz que eu falo muito das coisas antes que elas
aconteçam
Segurar um pouco a onda da ansiedade
E diz que o Seu João voltará a falar comigo devido os
desentendimentos nas pescarias
Agora falo com o meu pai no vídeo na casa do João
Menino da porteira domingo de manhã.