domingo, 6 de novembro de 2022

Domingo no mercadão

 Domingo no mercadão

                               Menino da porteira

 

Dobro a esquina e desço a rampa

Sinto o cheiro do mijo e das fezes dos mendigos

Chego até a faixa de pedestres, os carros não esperam

Passo pela banca de jornais (eu li as notícias hoje, oh garoto!)

O Kibe, para variar, não está na pastelaria

Eu sigo até a tabacaria

A irmã da Silvana me atende

Peço um avulso, irei parar porque voltarei a estudar Kardec, pergunto a marca:

“Menino da porteira” 0,50 centavos o cigarro

Ando com ele em punho até do lado da gaiola das codornas

Ascendo e vejo a Julia vindo

Cumprimento ela, ela me olha, leva as mãos à cabeça num movimento embaraçoso,

Percebo que esqueceu o meu nome, tudo flui calmo e eu digo, Augusto! E ela me pergunta como estou, eu digo que estou fumando um paieiro.

O garoto se despede da cadelinha que ficará para doação aos choros,

A avó diz que “ Em nome de Jesus ela ficará bem”

Na volta passo no Mig Box e não beijo a Rosália porque estou suado.

Pergunto se a Léia já acordou.

Vou até o escritório e troco umas palavras de sabedoria com o Miguel.

Encontro a Léia, ela está varrendo o chão da cozinha.

Chama o cachorro filhote de vagabundo, de um jeito carinhoso, e diz que já vai fumar o cigarro.

Conversamos dos passarinhos, como as sábias dividem a função de fazer o ninho.

Me despeço da Léia e vou encontrar a minha tia e madrinha.

Tia Thelma me oferece uma Estrella Galícia zero e azeitonas

Ela me diz que eu falo muito das coisas antes que elas aconteçam

Segurar um pouco a onda da ansiedade

E diz que o Seu João voltará a falar comigo devido os desentendimentos nas pescarias

Agora falo com o meu pai no vídeo na casa do João

Menino da porteira domingo de manhã.